segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O ENCANTO DA CIDADE DE JERICOACOARA

Dizem alguns habitantes de Jericoacoara -  no estado do Ceará -  que, sob o serrote do farol, jaz uma cidade encantada  onde habita uma linda princesa.
Perto da praia, quando a maré está baixa, há uma furna onde só se entrar de gatinhas. Essa furna de fato existe.
Só se pode entrar pela boca da caverna, mas não se pode percorrê-la, porque é fechada por enorme portão de ferro.A princesa está encantada no meio da cidade que existe além do portão.
A linda princesa está transformada numa serpente de escamas de ouro, só tendo a cabeça e os pés de mulher.
Conta a tal  lenda que ela só pode ser desencantada com sangue humano.
No dia em que se imolar alguém perto do portão, abrir-se-á a entrada do reino maravilhoso. Com sangue será feita uma cruz no dorso da serpente, e então surgirá a princesa com sua beleza estonteante no seio dos tesouros e maravilhas da cidade.
E então, em vez daquela ponta escavada e agreste, surgirão às cúpulas dos palácios e as torres dos castelos, maravilhando toda a gente.
Na povoação há um feiticeiro, o velho Queiroz, que narra com fé dos profetas e videntes, os prodígios da cidade escondida.
Certo dia Queiroz, acompanhado de muita gente da povoação, penetrou na gruta.
O feiticeiro ia desencantar a cidade.
Já estavam em frente ao portão, que toda a gente diz ter visto. Eis que surge a princesa à espera do desencanto.
Dizem que ouviram cantos de galos, trinados de passarinhos, balidos de carneiros e gemidos estranhos originados da cidade sepultada.
O velho mágico, entretanto, nada pôde fazer porque no momento ninguém quis se prestar ao sacrifício.
Todos queriam sobreviver, naturalmente para se casar com a princesa.
O certo é que o feiticeiro pagou caro à tentativa. Foi parar na cadeia, onde permanece até hoje.

A cidade e a princesa ainda esperam por um herói que se decida a remi-las com seu sangue.
Como ninguém quis até hoje dar a vida para quebrar o tal encanto, a princesa continua lá, encantada na gruta a espera do seu salvador .
Duvida ?


domingo, 29 de novembro de 2009

ONDE SERÁ QUE FICA A TAL "CASA- DA- MÃE- JOANA "?

É muito comum usar a expressão "casa-da-mãe-Joana" para se referir a um ambiente de bagunça. Mas por que se relaciona a tal Joana com a desordem? 
E afinal, onde ficava a "casa-da-mãe-Joana"?
 De acordo com Reinaldo Pimenta, professor de língua portuguesa, a expressão popular surgiu no século XIV a partir das desventuras de uma Joana que, de rainha, passou a ser fugitiva.

Segundo descreve Pimenta, em seu livro "Casa da mãe Joana", Joana I era a rainha de Nápoles e considerada a protetora cultural de poetas e intelectuais por causa de sua beleza e inteligência.
Ela se casou com seu primo Andrew, irmão de Luís I, rei da Hungria.

Algum tempo depois, Andrew foi assassinado em uma conspiração que, de acordo com a obra, teve a participação da própria Joana. Enfurecido, o irmão da vítima resolveu invadir Nápoles em 1348 perseguindo Joana, que se viu obrigada a fugir para a localidade de Avignon, na França.

Uma vez instalada em um palácio que já havia sido a moradia de sete papas, Joana passou a mandar e desmandar na cidade.
 Tanto que resolveu regulamentar os bordéis de Avignon, determinando que cada estabelecimento deveria ter uma porta por onde qualquer pessoa poderia entrar.
A partir disso, cada bordel ficou conhecido como "Paço da Mãe Joana", considerada a dona da cidade.

Mais tarde, Joana vendeu a cidade com a condição de ser declarada inocente de participação na morte do ex-marido. Em 1382, Joana foi assassinada por seu sobrinho e herdeiro, Carlos de Anjou.

Chegando essa história ao Brasil,  a palavra "paço" foi modificada para um formato mais popular, "casa", gerando a expressão como é conhecida até hoje: "Casa-da-mãe-Joana".

sábado, 28 de novembro de 2009

A PINTURA CORPORAL INDÍGENA.

Uma das características que mais marcam a cultura indígena é a pintura corporal, que pode ser vista como tão necessária e importante esteticamente, como a roupa usada pelo “homem branco”.
Os materiais utilizados normalmente para isso são tintas como o urucum que produz o vermelho, o jenipapo da qual se adquire uma coloração azul marinho quase preto, o pó de carvão que é utilizado no corpo sobre uma camada de suco de pau-de-leite, e o calcáreo da qual se extrai a cor branca.
O processo de preparação da tinta consiste em ralar a fruta com semente e depois misturá-la com outros pigmentos, como o carvão, para diversificar as cores.
Essa pintura corporal tem como objetivo diferir os povos, determinar a função de cada um dentro da aldeia e, em alguns casos, mostrar o estado civil.
Algumas índias utilizam esse método, por exemplo, para “dizer” que estão interessadas em encontrar um parceiro.
Qualquer índio pode preparar o material e depois usá-lo. Entretanto, é importante tomar muito cuidado com os desenhos a serem pintados.
Cada etnia tem sua própria marca e se alguma outra utilizar a mesma, uma luta entre as aldeias pode ocorrer.
Por exemplo, a etnia Tenharim, do Amazonas, faz desenhos de bolas em todo o corpo para se caracterizar. Os homens usam desenhos maiores para se diferenciarem das mulheres e imporem uma posição de liderança.
Já na aldeia Tapirapé, do Mato Grosso, homens podem usar as mesmas figuras das mulheres, mas as mulheres não podem usar as dos homens.
Entre muitas tribos essa arte corporal é também utilizada como uma forma de distinguir a divisão interna dentro de uma determinada sociedade indígena, como uma forma de indicar os grupos sociais nela existentes, embora existam tribos que utilizam a pintura corporal segundo suas preferências.
As formas de expressão indígena são muito variadas e retratam os sentimentos desse povo. Pintam o corpo para enfeitá-lo, para defendê-lo do sol, dos insetos e, também, dos maus espíritos.
A pintura corporal para os índios tem sentidos diversos, não somente na vaidade, ou na busca pela estética perfeita, mas pelos valores que são considerados e transmitidos através desta arte. 

Desconheço a autoria das fotos postadas acima.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A CONQUISTA DO FOGO.

Dono do Fogo, não tenha medo. 
Eu não vou machucar você. 
Eu só quero que você me ensine onde está o fogo. 
Minha gente precisa do fogo.

O Urubu-Rei ficou um pouquinho zangado, mas mesmo assim chamou o seu filho, um passarinho preto, e ordenou que ele fosse buscar o fogo. O passarinho foi buscar o fogo no céu e ao voltar veio descendo bem devagar para que ele não apagasse. O fogo foi entregue a Kanassa que, na mesma hora, soltou a perna do Urubu-Rei. Este, antes de ir embora, disse para o índio corajoso:

"Quando o fogo apagar, quebra uma flecha em pedaços, amarra bem um pedaço sobre outro e firma no chão. Em seguida, procura uma varinha de urucum e com ela, apoiando uma das pontas nos pedaços da flecha, gira com força até o fogo surgir."

Tendo conquistado o fogo, Kanassa precisava atravessar de volta a Grande Lagoa. Nessa travessia, o herói recebeu a ajuda especial da cobra Itóto, que ficou conhecida como "a cobra que conduziu o fogo". De volta à aldeia, Kanassa ensinou a sua gente a fazer, a conservar, a apagar e a utilizar o fogo. Desde então os Kuikúru também são Donos do Fogo.

(História recontada do folclore indígena pelo museólogo e poeta Mário Chagas )

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O MAPINGUARI.


O Mapinguari é um ser do mundo das fadas da selva Amazônica. Uma espécie de “monstro” lendário que muito se aproxima a um grande macaco de longa pelagem castanha escura. Sua pele assemelha-se ao couro do jacaré, com garras e uma armadura feita do casco da tartaruga.
Seus pés têm formato de pilão e com uma boca tão grande que em vez de terminar no queixo estende-se até a barriga. É quadrúpede, mas, quando em pé, alcança facilmente dois metros de altura.

O Mapinguari também é conhecido pelos nomes de pé de garrafa, mão de pilão e juma. A lenda sobre a “besta malcheirosa” é uma das mais difundidas pelos indígenas.

A simples menção ao nome do Mapinguari é suficiente para dar calafrios na espinha da maioria daqueles que habitam a floresta.


Alguns acreditam na origem do monstro num velho pajé amaldiçoado e condenado a viver para sempre vagando pelas selvas e nessa forma aterrorizante. Outros, ainda, justificam sua origem em índios com idade avançada e que foram desprezados por suas tribos.

Sua presença na floresta é marcada por gritos e um rastro de destruição.

Os relatos são semelhantes e afirmam que ao depararem com o tal Mapinguari o mesmo assume postura bípede e ameaçadora, exibindo suas robustas garras. Nos relatos de alguns índios a confirmação da eliminação de um fedor que dizem originar-se na barriga.

Ao andar pelas selvas, emite um grito semelhante ao dado pelos caçadores. Se um deles se encontra perto, pensando que é outro caçador e vai ao seu encontro, acaba perdendo a vida:

O Mapinguari, segundo informações jornalísticas, teria devorado vários indígenas no estado do Acre nos anos 80. Segundo alguns cronistas, o Mapinguari se alimenta apenas da cabeça das pessoas. Segundo outros, devora-as por inteiro, arrancando-lhes grandes pedaços de carne, mastigando-as como se masca fumo.

Contam também histórias de grandes combates entre o Mapinguari e valentes caçadores, porém o Mapinguari sempre leva vantagem e os caçadores felizardos que conseguem sobreviver muitas vezes lamentam a sorte: ficam aleijados ou com terríveis marcas no corpo para o resto de suas vidas.

Se pretenderes ir ao interior para conhecer as belezas da floresta amazônica, vai, mas com muito cuidado.
Pois, além das belezas podes dar de frente com uma de suas assombrações  como o Mapinguari.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A MULHER DA ESTRADA.

A "mulher da estrada" é uma lenda urbana muito conhecida, principalmente no meio dos que trabalham dirigindo pelas estradas vicinais.
Seu surgimento se deu em meados dos anos 50/60 devido ao grande crescimento das rodovias.
Na maioria das vezes, a lenda fala de uma mulher loira, muito pálida (que em alguns casos pode ser trocada por uma índia ou prostituta), que fica na beira da estrada, por volta da meia-noite, pedindo carona para os motoristas que tem por hábito dirigir pelas madrugadas.
Quando alguém se propõe a parar, ela conduz a pessoa até um cemitério próximo. Chegando lá, a bela mulher desaparece perto de sua lápide.
Outra variação, ela simplesmente desaparece dentro do próprio veículo, depois o motorista descobre, pelos moradores das redondezas, que a moça havia sido atropelada há muitos anos naquela mesma estrada por um colega caminhoneiro (sem prestar socorro). Em outros momentos, dependendo da localidade em que se passa a história, antes de desaparecer, o espírito da mulher pede ao motorista que ele construa uma capela no lugar onde ele a encontrou, para que assim possa finalmente descansar em paz.
Também existem versões em que ela se deita com o motorista que quando acorda, descobre que ela desapareceu sem deixar qualquer vestígio.
Uma versão mais sangrenta diz que a loira antes de desaparecer, seduz o motorista, e que ao tenta beijá-la, acaba perdendo a língua.
Numa outra narrativa bastante difundida, conta a história de uma mulher (sem um dos dedos da mão), que vive vagando pelas estradas em busca de seu assassino: ela pede uma carona na estrada e o caminhoneiro passa a desejar o anel de ouro (muito valioso) que está no seu dedo anelar da mão esquerda. O desejo de possuir a jóia é tão grande, que o caminhoneiro arrasta a mulher para o matagal e em seguida a estrangula. Como não consegue arrancar o anel, acaba cortando o seu dedo.
Além disso, várias adaptações dessa lenda se passam em cidades grandes e são protagonizadas por motoristas de táxi.
Nelas, o taxista recebe uma passageira muito bela e jovem (também muito pálida), que pede uma corrida até um cemitério qualquer da região.Chegando no local indicado, a tal moça fornece ao ao motorista o endereço de sua casa dizendo onde ele irá receber seu pagamento. Dia seguinte, quando o motorista é recebido pelo pai da moça, descobre que ela faleceu há muitos anos. O taxista, então nervoso e sem entender nada, fica ainda mais confuso ao reconhecer numa foto a menina que ele conduziu no dia anterior.

Lenda ou não, é sempre bom tomar muito cuidado com estas estradas escuras e solitárias, pois como já dizia a minha avó, "o seguro morreu de velho". Mesmo porque, você não está de todo livre de encontrar com uma linda mulher vagando pela noite pedindo carona.

Nesse caso, o que você faria ?

Saudações Florestais !

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O PROFETA GENTILEZA.

Eu percebo que virou moda muitos blogs colocarem a frase "Gentileza Gera Gentileza", frase esta também explorada por um determinado partido político.
 Por um acaso  vocês sabem de onde ela vem ?

José Datrino se tornou o Profeta Gentileza após a tragédia do Gran Circus Americano, em Niterói (RJ), em dezembro de 1961 ( na época com 44 anos ), depois de ter perdido a sua família neste trágico incidente.
 Com toda a sua dor,ele ofereceu consolo e solidariedade aos parentes das vítimas e, após isso, começou a andar pelo País espalhando sua pregação de desprendimento ao mundo material e valorização do sentimento gentil.
 
"MEUS FILHOS
NOSSA CABECA
NOSSO MESTRE
O MUNDO E UMA
ESCOLA AMORRR".

Entretanto, foi o Rio de Janeiro que recebeu as maiores contribuições de Gentileza. O homem de túnica branca, cabelos e barba longas, tão alvas quanto à pureza de sua alma, era visto freqüentemente na estação das Barcas, na Central do Brasil e na Rodoviária, locais de altíssima concentração de pessoas.
A partir de 1980, escolheu 56 pilastras do Viaduto do Caju que vai do Cemitério do Caju até a Rodoviária Novo Rio, numa extensão de aproximadamente 1,5km.
Ele encheu as pilastras do viaduto com inscrições em verde-amarelo propondo sua crítica do mundo e sua alternativa ao mal-estar da civilização. Durante a Eco-92, o Profeta Gentileza colocava-se estrategicamente no lugar por onde passavam os representantes dos povos e incitava-os a viverem a Gentileza e a aplicarem Gentileza em toda a Terra.

Citação: “Gentileza Gera Gentileza”.

Em 29 de maio de 1996, aos 79 anos, faleceu na cidade de seus familiares, onde se encontra enterrado, no “Cemitério Saudades”.


"AMORRR
MEUS FILHOS
NÃO USEM PRO-
BLEMAS NÃO
USEM POBREZA
USAMOS A NA-
TUREZA TEM
BASTANTE RIQUEZA
DISSE GENTILEZA".

E foi no portão de entrada da cidade que Gentileza deixou o seu legado.
Em 56 pilastras que sustentam o Elevado do Gasômetro, o Profeta eternizou sua mensagem de amor, respeito e crítica social.

"AMORRR
PALAVRA
QUE LIB-
ERRRTA A
GRADECIDO
E LUZ DE
JESSUSS
CONDUZ".

Ainda me lembro como se fosse hoje, saltava do trem na Central do Brasil em direção ao trabalho  e lá estava ele, distribuindo flores , palavras de AMORRR e Gentileza para quem passava.

Eu tive o privilégio de conhecer o Profeta Gentileza



Desconheço a autoria das fotos postadas acima.

domingo, 22 de novembro de 2009

A LENDA DE MBIGUÁ.


Os índios guaranis contam que Mbiguá era um guerreiro que vivia feliz com sua esposa Yerutí em uma aldeia às margens do rio Mirinãy, afluente argentino do rio Uruguai.
A beleza de Yerutí despertou a cobiça de Capiberá, que a raptou e fugiu em uma canoa. Mbiguá perseguiu e matou Capiberá, mas Yerutí havia desaparecido.
Desesperado, Mbiguá a procurou na mata e ao longo do rio, sem encontrá-la. Apenas o eco respondia a seus chamados. Vencido, Mbiguá jogou-se no rio, convencido de que Yerutí havia se afogado. Pouco tempo depois, os índios de sua tribo notaram uma ave de plumagem negra que voava insistentemente sobre as águas do Miriñay.
O feiticeiro da tribo explicou então que Mbiguá havia se transformado na ave que continuava buscando sua amada Yerutí.


Saudações Florestais !

sábado, 21 de novembro de 2009

A LENDA DO ALGODÃO.



Há muitos anos, os índios não sabiam cultivar a terra, nem domesticar os animais. Não construíam malocas e nunca tinham visto tecer ou fiar. Habitavam em cavernas ou alto das árvores. Pareciam animais selvagens.

Nesse tempo, havia uma tribo cujo pajé era prudente e sábio. Chamava-se Sacaibu.

Um dia Sacaibu resolveu mudar-se com seus companheiros para um lugar bem alto, com muita caça.

Sacaibu plantou uma semente dada por o deus chamado Tupã. A semente germinou e virou uma árvore muito grande.

Passado algum tempo, perceberam que no lugar abriu-se um abismo muito fundo e que na árvore tinham crescido enormes tufos brancos.

Os tufos brancos eram algodões que com eles teceram roupas e fizeram cordas para chegarem ao fundo do abismo e viu que lá em baixo tinha um povo muito adiantado, bom, forte, generoso e prestativo. Atendendo ao pedido de Sacaibu subiram nas cordas e ajudaram os índios a cultivar a terra.

Foi assim que nasceram os primeiros algodoeiros no Brasil.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O PRESENTE DE OSSANHA.

Em homenagem ao dia da Consciência Negra eu trago para vocês um conto de um escritor que amo de paixão - Joel Rufino dos Santos.
Para quem não conhece, Joel Rufino dos Santos (Rio de Janeiro) é negro, é  historiador, professor e escritor brasileiro.
É um dos nomes de referência sobre cultura africana no país.
Nascido no bairro de Cascadura ( foi meu vizinho), cresceu apreciando a leitura de histórias em quadrinhos.
Já adulto, foi exilado por suas idéias políticas contrárias à ditadura militar então em vigor no país. Morou algum tempo na Bolívia, sendo detido quando de seu retorno ao Brasil (1973).
Doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde lecionou Literatura, como escritor tem extensa obra publicada: livros infantis, didáticos, paradidáticos e outros. Trabalhou como colaborador nas minisséries Abolição, de Walter Avancini, transmitida pela TV Globo (22 a 25 de novembro de 1988) e República (de 14 a 17 de novembro de 1989).
Além disso, já ganhou diversas vezes o Prêmio Jabuti de literatura, que é o mais importante no país.
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               Esta história  se passou há mais de cem anos, num tempo em que tudo era possível, ninguém se espantava com nada.
                  Num engenho de açúcar viviam dois meninos: um era filho do dono e se chamava Ricardo. O outro era escravo e tinham esquecido seu nome, só o chamavam de moleque. Moleque pra lá, moleque pra cá.
                   O moleque fora comprado  bem novinho no mercado. Seu trabalho ia ser brincar com o filho do dono, brincar de todo jeito: jogar dama, soltar pipa, rodar arco que era uma brincadeira muito apreciada naquele tempo e de cavalinho – Ricardo montava e o moleque era montado. Saíam os dois pelo terreiro:
-    Upa, upa cavalinho, gritava Ricardo.
O dono do engenho olhava aquilo e esfregava as mãos:
-    Esse moleque foi a melhor compra que já  fiz, mulher. Olha nosso filho como está feliz!
                     Vai que num domingo de manhã, estando de folga, o moleque entrou no mato para pegar passarinho. Ele pegava um pedaço de pau e passava visgo para o coitado pousar e ficar preso. Naquele domingo porém, o sol já estava no alto e nada...
-    Vou lhe ajudar, disse uma voz rouca.
Tinham explicado ao moleque que se ouvisse uma voz rouca longe de casa, tomasse cuidado. Podia ser a onça Gomes ou Quibungo, ou Ipupiara ou o João do Mato.Essas criaturas horrendas tinham lá suas razões para não gostarem de gente.
-    Quem é você? – perguntou o moleque. Mostre sua cara.
Quem apareceu foi Ossanha. Usava um cocar e um saiote de penas, mais não era índio. Sua pele era negra, quase azul. Não tinha uma perna e não tinha um olho, perdidos numa briga com Xangô.
No começo de tudo, o criador que se chama Olorum, tinha dado a cada filho uma parte do mundo. Para Ossanha deu a floresta:
-    Você cuida das plantas. Umas servem para comer, outras para fazer remédio e outras para enfeitar a casa. Quando alguém precisar, atenda.
O que fez Ossanha? Guardou as plantas só para si.
-    Está em falta, mentia quando alguém procurava.
Seu irmão Xangô quando soube, chamou Iansã que cuidava dos ventos:
-    Onde já se viu? Dê um castigo para esse egoísmo.
Iansã se aproximou como quem não quer nada, Ossanha se distraiu e ela abanou com a saia o horto particular do orixá egoísta. Foi a maior ventania! Quando acabou, as plantas tinham se espalhado pelo mundo. É por isso que Ossanha está em todo lugar que tem mato, recolhendo as plantas que Iansã espalhou.
               O moleque que conhecia a história não teve medo:
-    Como é que o senhor/senhora vai me ajudar?
Senhor/senhora porque Ossanha é as duas coisas.
-    Tome esse visgo, é da nossa terra. Com ele você vai pegar o pássaro Cora , já viu um?
-    Não.
E foi o que aconteceu. O pássaro Cora era um espanto! Vinha gente de longe apreciar  o seu canto – criadores de pássaros, viajantes, naturalistas, gente de outros países, do governo, da igreja...
O pássaro do moleque aprendia o que se ensinava. Bastava assobiar uma vez perto da gaiola e ele imitava. Começaram a botar preço na maravilha. O moleque recusava. Se aceitasse, teria dinheiro para jogar na cara de seu dono e dizer:
-    Olha aqui, compro a minha liberdade e pode ficar com o troco.
Mas o moleque dizia não. Não vendo, nem troco por dinheiro do mundo. O senhor partiu para a ameaça:
-    Se não me vender esse passarinho, te arranco a pele.
O moleque sorria com o canto dos lábios.
-    Se não me vender essa porcaria, te aplico os anjinhos.
Anjinhos eram uns anéizinhos de ferro para apertar os dedos e doía como o diabo!
-    Se é uma porcaria, por que o nhô quer comprar? Era só o que ele dizia.
Quando o menino estava de castigo, o Cora não cantava.
Até que um dia, o senhor perdeu a paciência. Resolveu vender o moleque para outro senhor.
-    Vai ser bem longe daqui que não quero ver a tua cara na minha frente  e nunca mais ouvir a voz desse passarinho.
Ricardo, o filho do dono, ficou triste, ficou doente e pediu:
-    Não vende, pai. Há tempos que o escravo sou eu. Eu é que dependo dele pra tudo,  não sei mais brincar sozinho.
O pai não escutou, vendeu o moleque. O comprador veio buscá-lo a meia-noite. Ricardo estava tão triste que não teve coragem de se despedir do moleque.
-    Ele vai alegre – pensou – porque tem o Cora. Eu fico triste porque não tenho nada.
No outro dia de manhã, quando se levantou e abriu a janela, o menino Ricardo teve uma surpresa: do lado de fora tinha uma gaiola pendurada.
Assim que viu o menino, o Cora começou a cantar.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A VERDADEIRA FACE DA LUA-DE-MEL.


A organização de todos os detalhes de um casamento não é uma tarefa árdua. São gastos meses para que o grande dia seja perfeitamente como o sonhado pelos noivos. E, depois da cerimônia, troca de alianças e recepção, os recém casados só pensam em uma coisa: aproveitar bastante a sua “lua-de-mel”, para que os primeiros momentos a dois sejam inesquecíveis.
E por falar em "lua-de-mel, alguém sabe me dizer de onde vem essa expressão ?
A origem desse termo tem algumas versões diferentes.

A mais conhecida diz  que esse termo surgiu com antigas tribos germânicas que se casavam no período da lua-nova e durante o mês inteiro bebiam uma mistura afrodisíaca adoçada com mel para terem sorte.
Outra versão afirma que o termo teve origem lá em Roma Antiga, nos casamentos por captura: um homem apaixonava-se por uma mulher, raptava a amada, muitas vezes contra a sua vontade, e a escondia por um mês ( de uma lua cheia a outra) em algum lugar bem afastado, onde ninguém pudesse encontrar. Durante esse período, os dois bebiam uma mistura afrodisíaca adoçada com mel, até que ela se rendesse à sua sorte.
A lua cheia sempre foi um momento ideal, desde a antiguidade, para festas de casamento, pois como não existia luz elétrica, o luar iluminava a noite festiva.
Uma terceira versão nos conta que em Roma,  os convidados  pingavam gotas de mel na porta da entrada dos noivos, para que estes tivessem uma “vida doce”.
Bem, seja  qual for a verdadeira versão , não faz lá muita diferença. O que interessa é que a “lua-de-mel” faz parte do sonho de qualquer casal que busca  momentos sublimes  para viverem um grande amor.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O AUTO DO BOI DE CATIRINA.

Os brancos trouxeram o enredo da festa; os negros, escravos, acrescentaram o ritmo e os tambores; os índios, antigos habitantes, emprestaram suas danças. E cada fogueira acesa para São João, os festejos juninos maranhense foram transformando-se no tempo quente da emoção , da promessa e da diversão.
É nesta época de junho, que reina o majestoso Bumba-meu-Boi.
Lá pelas bandas do Maranhão existia um homem muito rico, dono de uma enorme fazenda, e que tinha paixão por gado. Seu rebanho era numeroso, mas dentre tantos no pasto existia um boi muito especial, que o tal homem destinava maiores cuidados – chamava-se Mimoso. De tão apaixonado que era, designou um empregado de sua inteira confiança – o nego Chico - só para cuidar de Mimoso e servi-lo do melhor.
Só que algum tempo depois, nego Chico cansado de viver sozinho, conheceu Catirina e enamorou-se por ela. Não demorou muito e estavam casados. Logo, logo,ela engravidou e lá pelo sexto mês, a tal mulher amanheceu com um surto de desejo: comer a língua de um boi; só que não era de qualquer boi, era a língua de Mimoso.
Seu marido ficou escandalizado. Argumentou... Disse que não era assassino, mas a mulher insistia e acabou convencendo o marido dizendo que caso não satisfizesse seu desejo, a criança que estava esperando poderia nascer morta.Sendo assim, nego Chico, então, mesmo inconformado,acabou arrancando a língua do boi para matar o tal desejo de sua esposa.
Só que no dia seguinte, seu patrão estranhando a ausência de Mimoso no pasto, começou a pressioná-lo.
Descoberto o malfeito, o Amo (que encarna o fazendeiro, o latifundiário, o “coronel”, a autoridade) pede aos índios que capturem o criminoso e o tragam à sua presença (representa a cena mais hilariante da comédia e também uma crítica social). Arrependido, nego Chico acabou relatando o acontecido.Quando o boi foi achado, estava quase morto.
Para ressuscitar o boi chamam o doutor , cujos diagnósticos e receitas estapafúrdias, ironizam a medicina.No final acaba sendo socorrido por um curandeiro dizendo que a vida de Mimoso dependia somente da fé do povo.
Então, o povo cantou e rezou a noite toda e Mimoso finalmente ressuscitou: foi uma festança ! Festa que dura até os dias de hoje, a festa do Bumba-meu-boi.
O Bumba-meu-boi, na verdade, nasce de uma promessa feita ao glorioso “São João” , mas no Maranhão também se rendem homenagens a São Pedro e São Marçal.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O PALHAÇO DO COQUEIRO.


O palhaço do coqueiro é uma lenda lá do Janga (bairro de Paulista, em Pernambuco) .
O povo conta que um palhaço frustrado que fugiu do circo, vive por aquelas bandas  pregando sustos nas pessoas, principalmente nas noites de  quarto minguante.
É o seguinte:
Um palhaço que não conseguia fazer as pessoas rirem no circo, acaba enlouquecendo e foge. Somente a lua minguante ri para ele, e por isso o palhaço passa as noites de lua minguante em cima dos coqueiros observando o sorriso da lua. 
O problema acontece quando uma nuvem passa pela lua encobrindo seu sorriso... daí então o palhaço desce do coqueiro em busca de sorrisos.
Quando encontra alguém ele começa a fazer palhaçadas (nada engraçadas) e se a pessoa não sorrir, hum... ele mata de susto.
  E assim vai até que a nuvem saia de frente da lua.

Mas será que ninguém prende esse palhaço ?

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A ÁRVORE DAS FLORES VERMELHAS.



“Uma árvore sem flor chorava cruciantemente a sua desdita.

Ouviu-a Tupã. Penalizou-se e com voz tonitruante sentenciou:

-“Que os raios de fogo do sol ardente transformem esses verdes ramos em milhares de flores rubras”.

Tal aconteceu. A galharia verde das árvores frondosas da mata afastaram-se e o sol operou o prodígio

— a copa verde do flamboyant transformou-se num lindo ramo de flores rubras e fulgurantes.”

domingo, 15 de novembro de 2009

SERÁ QUE FOI MESMO O BENEDITO ?

Agorinha mesmo estava reescrevendo sobre São Benedito, quando me veio à cabeça aquela expressão de cunho popular: "Será o Benedito?".
Você sabe de onde ela vem ? 
Posso adiantar que não trem nada a ver com o pobre do santo.

Então vamos lá, foi assim que eu ouvi dizer...

É só fazer uma travessura e lá vem a vó com aquela cara que mistura decepção e impaciência: "mas será o Benedito?" Como muita coisa na língua portuguesa, a origem dessa expressão tem inúmeras versões, todas de difícil comprovação em registros formais - jornais da época, livros ou outras formas de comunicação escrita -, explica o professor de português Ari Riboldi, autor de três livros sobre a origem das palavras e expressões.
A versão mais aceita é a de que a pergunta teria surgido na década de 1930, em Minas Gerais. O então presidente Getúlio Vargas demorava muito para nomear um interventor para aquele Estado. 
Naturalmente, a demora gerou inquietação entre os inimigos políticos de um dos candidatos ao posto, cujo nome era Benedito Valadares, que perguntavam
-"Será o Benedito?".

Pois foi. Valadares foi nomeado interventor em 12 de dezembro de 1933 e, nos meios políticos da época, foi tão conhecido quanto sua expressão é entre os falantes.
Era considerado uma raposa, cuja esperteza, descreveu em suas memórias, só era superada pelo próprio Getúlio.
Uma variação da expressão é ainda mais curiosa: 
- "Será o pé do Benedito?" 
O professor Riboldi, porém, desiste:
- Se não há comprovação total da história de que Benedito era o governador Valadares, como saber de quem era esse pé?

sábado, 14 de novembro de 2009

O BODE PRETO.


Chegou até aos meus ouvidos, que no sertão nordestino existe um inseto que habita o subsolo, e fura o terreno para abrigar-se. A terra extraída do lugar em que escava, lembra a forma do fundo de uma garrafa. Diz o caipira ser a pegada do duende. 
O povo acredita que entes andam nas sextas-feiras santas em encruzilhadas onde os caminhos se bifurcam, à meia-noite, com o gênio do mal, metamorfoseando-se em um grande Bode Preto, conquistando a felicidade em troca da alma e selando com algumas gotas de sangue contratos macabros minutados pelo próprio demônio.
Para isso, porém, é preciso que o aspirante à felicidade seja dotado de grande fortaleza d'alma para que o Sujo não lhe pregue alguma peça, como sucedeu a um que combinara firmar contrato com o Espírito das Trevas e lhe entregava a alma com a condição deste de fazê-lo invencível no jogo do facão. 
Combinaram que o Diabo o ensinaria e o familiarizaria com todos os truques do jogo. 
O aspirante, por maior que fosse o aperto, não poderia chamar pelo nome de santo algum. Em meio da lição, porém, tal foi a conjuntura, ameaçado pelos coriscos do Diabo, que olvidando a combinação, a um bote que lhe deu o macabro professor, num salto à retaguarda, irrefletidamente, exclamou: -São Bento!!! 
-Serás molambento, urrou o Diabo, sovertendo-se pelo chão a dentro.
Desde então o triste viveu andrajoso: não havia roupa que o agüentasse, por mais forte e bem tecido que fosse o pano e, apoupado, viria a arrastar seus molambos com a alma entregue ao Diabo, sem a compensação que ambicionava. 

CRUZ CREDO , PÉ-DE-PATO, MANGALÔ,  TRÊS VEZES ! 


Essa é uma expressão usada pelos meus avós portugueses.
Para quem não conhece ou já ouviu e não sabe o que significa, aí vai uma cola:

Mangalô é uma planta faseolácea do Brasil.
Faseolácea é um gênero tipico de plantas a que pertence o feijão. 
No momento que se diz esssa expressão, joga-se três caroços de feijão para o ar, só assim o mau-olhado vai embora.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O CANTO DA FLAUTA MÁGICA: O IRAPURU.


O irapuru é um dos menores pássaros da floresta amazônica e sem qualquer cor que chame atenção. Comparado ao esplendor dos papagaios, tucanos e araras pode ser considerado até feio. Mas em compensação, possui um canto incomparável.
Canta apenas quinze dias ao ano, por não menos de cinco minutos.
Seu gorjeio acontece ao alvorecer, quando todos os demais passarinhos ainda estão dormindo.

O canto do irapuru ecoa na mata virgem com um som puro e delicado, como o de uma flauta. Parece ser emitido por uma entidade divina. Quando canta o irapuru, a floresta silencia. Todos calam para reverenciar o mestre, todos seduzidos pela beleza do seu trinado.
Por que o irapuru gorjeia com tanto sentimento ? Os índios tupi-guarani encontraram uma explicação.

Quem tiver o privilégio de ouvir seu canto, jamais o esquecerá.
Existem algumas lendas amazônica sobre o Irapuru.

Uma das narrativas conta que um jovem índio apaixonou-se perdidamente pela esposa do grande cacique da tribo. Incapaz de viver este amor impossível pediu a Tupã para ser transformado em ave para amenizar a sua dor. Desde então passou a cantar à noite uma bela melodia para fazer a sua amada dormir.

O cacique ficou tão fascinado pelo canto que perseguiu o pássaro para prendê-lo. O irapuru voou para a floresta e o cacique, na perseguição, nela se perdeu para sempre.
Todas as noites o Uirapuru voltava para acalentar os sonhos do seu amor, esperando, também, que um dia, a índia pudesse reconhecê-lo e despertá-lo do seu encanto.

A outra narrativa conta que duas índias muito amigas apaixonaram-se pelo mesmo guerreiro da tribo. A história do amor das duas se espalhou pela aldeia, e os mais velhos resolveram perguntar ao índio qual das duas ele amava. Mais que uma resposta, confessou seu amor pelas duas.

Pelas tradições da tribo não era permitido o casamento com as duas índias e, assim, o conselho de anciões da tribo decidiu: “o guerreiro casaria com aquela que primeiro conseguisse flechar um marreco voando”.

O casamento foi realizado. A índia que perdeu foi ficando cada vez mais triste, pois não suportava a impossibilidade de realizar seu grande amor e a saudade da amiga Procurou um lugar distante e começou a chorar. Chorou tanto, que suas lágrimas se transformaram num riacho.

Inconformada com aquela situação implorou a Tupã para ser transformada num pássaro.

Tupã compadecido atendeu-a dizendo: “de hoje e para sempre serás o irapuru. Terás um canto tão lindo e harmonioso que te livrarás de teu sofrimento.





quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O SACI PERERÊ.


O Saci é um menino fantástico, brasileiro, negro. Tem uma só perna e olhar muito esperto. Costuma vestir uma touca vermelha e trazer na boca um cachimbo porque gosta de fumar. Muita gente o tem como um ser maléfico. Mas isso é exagero. O Saci é endiabrado, mas não diabólico. É mais dado a brincadeiras que a malefícios. Astuto, diverte-se fazendo gozações, dando sustos, aprontando trapalhadas.
Segundo o folclorista Câmara Cascudo, o Saci – pronto e acabado como conhecemos – é originário do sul do Brasil. Em Roma e Portugal há seres semelhantes a ele. E, recentemente, há quem diga ter notado sua presença na Austrália, em Madagascar e na famosa excursão Londres – Liverpool – Dublin.
No Mato grosso há um pássaro, o carapuço vermelho, cujo assobio faz lembrar o assobio com o qual o saci anuncia sua presença nas matas e fazendas.
Assobia e surge num redemoinho. Começam então as suas estripulias: apaga a luz, assusta as galinhas, quebra louças, faz o leite talhar, mija na água do poço... Ele gosta de trançar a crina dos cavalos e de cavalgar. E de apavorar quem caminha em estradas solitárias.
Ultimamente vem se registrando a migração do saci: ele está deixando o campo pela cidade. Nos centros urbanos costuma permanecer invisível, mas sua presença tem sido detectada em várias situações estranhas. Assim, há indícios de sua presença nas situações que podem ser enunciadas como expressões: “não sei como...”, “que raiva...”, “justo agora...”, “onde será...”, “quem foi...”, “não entendo...” e outras tantas. Como exemplos escolhidos pelos estudiosos, vão a seguir frases indicativas de que o saci anda por perto de quem as pronuncia:
- “Não sei como pude esquecer meu guarda-chuva!”.
- “Que raiva! Tinha que pingar esse maldito molho na minha roupa?!”.
-“Justo agora que eu sentei para ver a novela esse telefone toca...”.
-“ Onde será que foi parar o lápis que estava aqui agora mesmo?”.
-“ Quem foi que deixou a porta da geladeira aberta?”.
-“Não entendo...Como fui perder a chave outra vez?”.
No campo, o nome comum da espécie desse ser fantástico é Saci ou Saci-Pererê. Na cidade, cada Saci gosta de se individualizar, adotando um nome próprio, como, por exemplo, Wilson Pereira. Outra diferença diz respeito aos presentes que as pessoas dão ao saci para evitar que ele apronte das suas. No campo, o Saci deixa-se cativar por presentes simples: um pedaço de fumo de corda, uma garrafa de licor de pequi, meio quilo de goiaba-cascão ou um facão guarani. Na cidade os presentes são outros, como um radinho de pilha, óculos escuros, tênis, goma de mascar sabor tutti-frutti, wisky escocês, camisetas com a inscrição I love saci! Ou outras do gênero.
A lista não tem fim porque o Saci urbano é insaciável...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O CONTO DE FADAS DO SÉCULO XXI.


 QUALQUER SEMELHANÇA É MERA COINCIDÊNCIA.


Era uma vez uma linda moça que perguntou a um simpático rapaz:

- Amor, você quer casar comigo?

Ele respondeu:

- NÃO!

E a moça não se deu por vencida, viveu feliz para sempre. 
Foi viajar, fez compras, conheceu muitos outros rapazes, visitou vários  lugares, foi morar na praia, comprou outro carro, mobiliou sua casa, sempre estava sorrindo e de bom humor, nunca lhe faltava nada, bebia cerveja com as amigas todas as vezes  que tinha vontade e ninguém dava palpites tão pouco não mandava nela.


Quanto ao rapaz, bem... não teve a mesma sorte.


O rapaz ficou barrigudo, careca, o pinto caiu, a bunda murchou, ficou sozinho e pobre, pois não se constrói nada sem uma MULHER.

FIM!!!


Ahahahah, me desculpem rapazes.
Eu recebi esta história por e-mail de um amigo e não podia deixar de publicar.

Nada pessoal, mas este conto é simplesmente genial.



terça-feira, 10 de novembro de 2009

MATINTAPEREIRA.

Nessas ocasiões, quando vê uma pessoa, solta um grito – ou será um piado? – assustador, que atravessa as matas, como se dissesse “ – Matintapereira...”.

E assim, gritando, vai se aproximando das casas. Como ninguém sabe o que anda fazendo nem o que pretende... “ – Lá vem a Matintapereira.
Vamos, rápido! As janelas, as portas, é preciso fechar tudo já!”.

São as pessoas
assustadas, querendo impedir que ele entre, pois dizem por aí que possui poder suficiente para provocar doenças nos humanos.

Também dizem que gosta muito de receber presentes, e adora café e fumo. Por isso, quando uma pess
oa bater à porta pela manhã – e for a primeira a fazê-lo – e pedir café, essa será a Matintapereira.

Pode ser que não seja verdade, mas pelo sim, pelo não, é melhor convidá-la para entrar e repartir o café da manhã com toda a família.

Ah, e também é bom espalhar alguns presentes em volta da casa. Coisas de enfeitar, porque ela gosta de caprichar na sua aparência, mesmo toda vestida de negro.

Lá vai a Matintapereira em sua pose de viúva negra, afastando as plantas com um pauzinho, à procura de presentes.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A LENDA DA CESTARIA.


Há muitos e muitos anos, nas profundezas do Rio Paru de Leste, afluente do Amazonas, e mais precisamente na divisa com o rio Axiki, vivia a serpente Tuluperê, conhecida popularmente como a cobra-grande.

Ela tinha um comprimento fora do comum. A pele, desde a cabeça até o final do corpo, apresentava as cores vermelha e preta. E reunia características da sucuriju e da jibóia.

Tuluperê virava embarcações que navegavam nas águas dessa divisa e, quando conseguia pegar uma pessoa, apertava-a até matar e dela se alimentava.

Um dia, os índios da nação Wayana, da família linguística Karib, com a ajuda do Pajé, líder religioso, conseguiram matar Tuluperê, depois que a atingiram com muitas flechas.

Nessa ocasião, viram os desenhos da pele da cobra-grande, memorizando-os.
A partir daí, passaram a reproduzí-los em todas as suas peças de cestaria.

domingo, 8 de novembro de 2009

A LENDA DO CORPO SECO.


Segundo conta a lenda, Corpo-Seco é a denominação dada para um homem que passou pela vida semeando malefícios e que seviciou a própria mãe.

Ao morrer, nem Deus nem o Diabo o quiseram, e a própria terra o repeliu enojada de sua carne. Um dia, mirrado, defecado, com a pele engelhada sobre os ossos, da tumba se levantou em obediência  ao seu fado, vagando e assombrando  as pessoas na calada da noite.
Dizem que vive grudado em árvores secas.


Pobre mulher certa vez, conta-se no sertão, amadora dos bons guisados de urupês (orelha de pau) vagava pela mata para colher os apetecidos, quando se deparou caído um pau-piúca, onde abrolhavam os saborosos parasitas, alvos muito alvos como pipocas. 
Colhia-as quando, no desvendar a parte extrema do madeiro, se tomou de pavor e muito susto ante dois olhos escarninhos que a fitavam, e disparou a correr desorientada sob o riso cachinado do corpo seco a chancear da peça que pregou à pobre mulher.

Essa criatura fantástica  é conhecida em Minas Gerais, Paraná,Santa Catarina, Amazonas, nordeste do Brasil  e, principalmente, no estado de São Paulo, onde em determinadas áreas se costuma dizer que quando algum incauto tem a infelicidade de passar perto de um Corpo-Seco, este salta sobre ela e suga seu sangue como se fosse um vampiro . Luís da Câmara Cascudo, por exemplo, diz que o "Corpo-Seco é a morada do espírito estridente que vaga depois da meia noite, enchendo de medo os que ouvem a ressonância dos gritos apavorados. Condenado a uma pena terrível, a alma dos grandes pecadores reside, durante o dia, no Corpo-Seco, múmia esquecida e sem história , no deserto dos cemitérios".


Este é um aviso para quem vive se encostando em árvores, principalmente na calada da noite: o corpo seco pode estar esperando por você.

sábado, 7 de novembro de 2009

O MAJESTOSO BAOBÁ MARIA GORDA.

“Sorte por longo prazo
a quem me beija e respeita
mas sete anos de azar
a cada maldade, a mim feita.”
(1627)

Na Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro, mais precisamente na Praia dos Tamoios, reside uma velha senhora de noventa e dois anos, chamada “Maria Gorda”.

Lá ela vive placidamente, cercada de passarinhos, de frente para o mar. Ninguém a molesta.

Conhecida de todos na ilha ela é respeitada e querida, um patrimônio de lugar.

Vinda de Manaus, em 1907, lançou suas raízes nos Tamoios, pelas mãos do Dr. José Caetano de Almeida Gomes, médico, professor e famoso pesquisador em Botânica. Começou a crescer e a engordar e tanto engordou que recebeu o apelido vigente até hoje: Maria Gorda. Título que não lhe causa o menor aborrecimento. Ela é gorda mesmo… Seu tronco já está com três metros de diâmetro, mas com o passar dos tempos ainda ficará mais encorpado, posto que suas irmãs de espécie chegam a viver trezentos anos e alcançam setenta metros de altura com diâmetro de oito metros!

Abençoada Maria Gorda! Abençoado baobá, trazido pequeno para Paquetá! Hoje, ereto, com suas grossas raízes e seus galhos imensos parece um gigante zelando por todos nós e pela terra que o acolheu.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O ENCANTADO DOM SEBASTIÃO E A ILHA DE LENÇÓIS.



“ Na praia dos Lençóis, entre os municípios de Turiaçu e Curupuru, no Maranhão, nas noites de sexta-feira, não havendo luar, aparece um grande touro negro com uma estrela resplandecente na testa. Quem estiver na praia será tomado de um pânico irresistível (...).Quem tiver a coragem de ferir o touro na estrela radiante vê-lo-á desencantar e a aparecer El-Rei D. Sebastião. A cidade de São Luís do Maranhão submergir-se-á totalmente, e diante da praia dos Lençóis emergirá a Cidade Encantada, onde o rei espera o momento de sua libertação. Na praia dos Lençóis é proibido pelos pescadores levar-se qualquer recordação local, que tenha sido colhida na praia ou n’água do mar, conchas, estrelas, búzios, algas secas, etc. Tudo pertence a El-Rei D. Sebastião e é sagrada sua posse”.

Dom Sebastião foi o rei português que morreu em 1578, aos 24 anos, quando se lançou com seus soldados em uma temerária aventura guerreira no Marrocos, na esperança de converter os mouros em cristãos. Ele desapareceu na famosa batalha de Alcácer Quibir, durante o qual o exército português foi quase dizimado pelas forças inimigas, e como o seu corpo jamais foi encontrado, muitas lendas foram criadas pelos crédulos e otimistas, todas alimentando o sonho de que um dia Dom Sebastião retornaria à sua terra para libertá-la do domínio espanhol, restaurando dessa forma o império português.
Uma dessas histórias sustenta que o soberano costuma aparecer nas noites de lua cheia em uma das praias da ilha dos Lençóis, que por sua vez está localizada no arquipélago de Maiaú, lado ocidental da cidade de São Luís.
Reza a lenda que o rei sempre se deixa ver na forma de um touro encantado, aguardando esperançoso que algum corajoso finalmente apareça e o liberte da maldição que o colocou naquela situação. E, também, que ele mora em um palácio de cristal que sempre se ergue no fundo do mar, próximo a ilha, mas não consegue sair de lá, por mais que tente, porque seu navio não encontra a rota correta que o leve de volta a Portugal.
A mesma versão garante ainda que a Ilha dos Lençóis é encantada, e que se tomou morada do rei português porque os montes de areia nela formados pelo vento, se assemelham aos existentes no campo de Alcácer Quibir, onde Dom Sebastião desapareceu.O touro negro que esconde a figura do rei português tem uma estrela de ouro na testa, e se alguém conseguir tangê-la, ferindo o animal, o reino será desencantado, a cidade de São Luís irá submergir e em seu lugar surgirá à cidade encantada que guarda os tesouros do rei.
Também o dia em que a testa estrelada do touro for atingida por algum cidadão desassombrado, o rei será libertado do encanto maligno que o transformou em animal e emergirá de vez das profundezas do oceano.
Dom Sebastião I (1554 - 1578), décimo sexto rei de Portugal, herdou o trono em 1507, quando tinha apenas três anos de idade. Aos 14 anos, quando finalmente assumiu o trono, o jovem soberano tinha a saúde débil, o espírito fraco e a mente sonhadora, razão pela que ao invés de administrar o vasto império de que era senhor, formulava planos para batalhas imaginárias e conquistas retumbantes, além de projetos visando à expansão da fé católica, profundamente convencido de que seria ele o capitão de Cristo numa nova cruzada contra os mouros do norte de África.Por esta razão começou a preparar-se para a expedição contra os marroquinos da cidade de Fez.

    E quanto a Dom Sebastião, provavelmente morreu na batalha ou depois de   aprisionado. Mas para o povo português de então, o rei havia apenas  desaparecido, e por isso passou a esperar por seu regresso


O poeta Fernando Pessoa dizia:
 

"Quando é melhor, quando há bruma,
Esperar por D.Sebastião,
Quer venha ou não!"

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A LENDA DA SERPENTE.

Em uma tarde nublada uma mãe desesperada corta a praça em direção a matriz, trazia no colo seu rebento que chorava faminto. Pelo que a história conta esta criança nascera de um amor proibido e amaldiçoado pelo destino, por ser o menino filho de um mistério.
Desesperada a mãe do menino aos pés da santa do altar mor da igreja Matriz largou o seu filho.
O que se fala e que o menino cresceu e em uma serpente se transformou e embaixo dos pés da santa sua cabeça ficou e tendo o resto caudal com a ponta virada para ponte do pontal.
Pôr mais carinho que a Nossa Senhora a ele deu, o menino revoltado cresceu. E ainda não citado, é que o menino é o neto do chifrudo.
A mãe que o rebento pariu, a loucura a consumiu.
E fala o povo que em certa hora de certa época, ouvem-se gritos de uma mulher histérica respondendo ao choro de um recém nascido.
Um tal menino, dizem pôr ai que a igreja esta afundando, porque a serpente de vez em quando se mexe tentando livras-se dos pés de Nossa Senhora.
E se você não acredita, vai a lateral da igreja e veja, pois a parte traseira esta mais alta que parte da frente.
E se mesmo assim você não acreditou, sente na praça espere o tal dia e há tal hora.Mas quando ouvir os gritos e se você estiver sozinho, corre, pois o choro que vai ouvir e do chifrudinho mar dito...



( Lenda da Cidade de Paraty/RJ)