quinta-feira, 16 de setembro de 2010

EX-VOTO - MANIFESTAÇÃO CULTURAL DE UM POVO.


Misto de devoção e fé, o ex-voto é uma manifestação da criação artística de um povo que testemunha não apenas a sua religiosidade, como ainda nos fornece elemetos importantes acerca da vida das comunidades.
O ex-voto é a designação erudita, onde podem ser enquadrados nossos milagres e promessas. São oferendas feitas aos santos de particular devoção ou, especialmente, indicados por alguém que obteve uma graça ou milagre implorados, como um testemunho público de gratidão.
Ex-voto - do latim: por força de uma promeça, de um voto- é depositado em local público ou de acesso coletivo - igrejas ou capelas - e apresenta uma série de formas testemunhais para pagamento de promessas ou em agradecimento a uma graça alcançada:
representação iconográfica (pintura ou fotografia) da graça ou milagre obtidos, como ameaça de morte, doenças curadas, perigos evitados, milagres que salvam propriedades de incêndios, secas, enchentes, pragas, dívidas.
O bem recuperado é retratado colocando-se numa legenda a narrativa do milagre, e a identificação do agraciado e do agraciador; representação em forma de escultura retratando normalmente uma doença curada;
inscrições em tábuas, mármores ou outro material "nobre" do testemunho ou gratidão pela graça alcançada;
bens como jóias, dinheiro, objetos preciosos de uso litúrgico e até capelas construídas em agradecimento, como é o caso da Nossa Senhora do Ó, em Sabará, Minas Gerais; elementos simbólicos como velas e flores;
cruzes usadas em peregrinações;
representações de casas, edifícios e chaves de carros, acompanhadas de bilhetes referindo-se a aquisição do bem ou sobrevivência em desastres ou acidentes;
carteiras de cigarros e garrafas de bebidas agradecendo o abandono do vício;
representação de várias espécies de animais narrando a gratidão do proprietário pela cura do animal ou proteção de grave perigo.
Foi uma prática muito recorrente no Brasil colônia e principalmente na região de Minas Gerais.
O hábito de oferecer ex-voto continua vivo para grande número de fiéis nas diversas camadas da população. Com o advento da fotografia e do ex-voto de cera semi-industrializada, desapareceu a preocupação de apresentar uma obra estética.
Com isso, pode ter perdido um pouco em valor artístico, mas não deixou de ter um grande significado como forma de expressão da religiosidade, fé e esperança da cultura de um povo.

Quando estou viajando e visito uma igreja, a primeira coisa que procuro é a sala destinada a ex-voto.
Fico parada olhando e imaginando as diversas histórias que estão por trás de cada peça ali depositada.

E você, já teve alguma graça alcançada ?

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A LENDA DO BARBA-RUIVA.

Num pequeno povoado pertinho da lagoa de Paranaguá, no Piauí, vivia uma senhora com suas três filhas. A mais nova das moças namorava um jovem que lhe prometera casamento, e em que ela depositara toda sua esperança de felicidade.Um dia, a moça sentiu que estava grávida.
Tudo bem, se não fosse o jovem ter ido trabalhar em outras terras e nunca mais ter voltado. Talvez tenha morrido, talvez tenha mandado uma carta que nunca chegou, talvez, isto, talvez, aquilo... A verdade é que a moça viu que teria o filho sozinha.
Ela passou a viver muito triste pela ausência de seu amor, e também muito envergonhada. Como havia de enfrentar os vizinhos sendo mãe solteira? Naquele tempo, era um escândalo uma moça ter um filho sem ser casada...
Depois de muito refletir, decidiu que, assim que o bebê nascesse, ela o colocaria dentro de uma bacia de cobre e o jogaria nas águas do rio. E foi o que fez logo que o menino nasceu.
Atenta a tudo que acontece nos seus domínios, a mãe-d’água ficou indignada com a atitude da jovem mãe. Como podia ela entregar o filho recém-nascido ao reino das águas? Então pegou o menino em seus braços e levou-o com ela.
Mas estava tão furiosa, que as águas se revoltaram, fizeram ondas enormes e alagaram as margens, engolindo as árvores, e se estenderam tanto pela terra, mas tanto, que o rio transformou-se numa lagoa cristalina com um imenso espelho de 15 quilômetros de largura. Foi assim que, da ira da mãe- d’água, formou-se a belíssima e vasta Lagoa de Paranaguá.
Mas a mãe do bebê não podia esquecer seu filhinho. Vivia amargurada com sua atitude. Ah, se pudesse saber onde estava o seu menino, e o que lhe acontecera!... Noite após noite, ela ia até a beira da lagoa e ali ficava de olhar parado sobre as águas, na esperança de que a luz do luar indicasse onde ele estaria. Porém o luar nada lhe dizia, nada lhe mostrava. Contudo, se seus olhos nenhum sinal podiam descobrir, seus ouvidos podiam perceber o som estranho vindo do fundo da lagoa, um choro de criança novinha, parecia um bebê querendo mamar.
O caso começou a ser falado e comentado; todos queriam ouvir o choro que vinha das águas. Mas, pouco a pouco, as pessoas foram se afastando daquele lugar e ninguém mais quis construir casa perto da lagoa. É que achavam muito triste ouvir, uma noite atrás da outra, o choro de uma criança novinha.
E assim os dias foram se seguindo às noites, no permanente passar do tempo, até que uma noite o bebê deixou de ser ouvido. Estaria o encanto terminado? Todo mundo começou a se aproximar cada vez mais da lagoa.
Ora, numa certa manhã, as moças que costumavam vir ali lavar roupa viram surgir das águas a figura de um menino, que sorria para elas um sorriso alegre como só os bebês têm. Tomaram um susto tão grande , que fugiram largando a roupa lá, e só voltaram à tarde. Aí, no mesmo lugar, a figura surgiu novamente, só que agora era de um moço bonito, de barba ruiva, que correu para abraçá-las. Mais um susto e mais uma corrida para bem longe dali. Quando caiu à noite, as moças voltaram para buscar a roupa, certas de que não teriam mais nenhuma visão. Mas... eis que de, novo, no mesmo lugar, elas vêem aparecer a mesma figura, desta vez com um homem de barba ruiva.
Desde esse dia, muitas pessoas já o viram e, curiosamente, ele não quer conversa com os homens, mas quando vê uma moça corre para ela - não para fazer mal, somente para abraçá-la e beijá-la. Como não sabem as suas intenções, as moças têm medo de Barba-Ruiva e não se atrevem a itr lavar roupa sozinhas.
Pobre Barba-Ruiva! Só está em busca de carinho e de alguém que quebre o seu encanto. Como isso pode acontecer? Bem, é preciso que surja uma mulher corajosa, que não tenha medo de se aproximar de Barba-Ruiva e jogar água benta sobre sua cabeça. No dia em que isso acontecer, Barba-Ruiva voltará a ser gente, como deveria ser desde que nasceu.
Onde estará a mulher, jovem ou não, que seja decidida e corajosa o bastante para desencantá-lo? Pelo visto ainda não nasceu.
Enquanto isso, o Barba-Ruiva continua seguindo a sua sina pelas águas espelhadas da Lagoa de Paranaguá.