sexta-feira, 10 de junho de 2011

ANDA RODA QUE EU QUERO ME CASAR ...

Anda a roda

Porque que eu quero me casar,

Desanda a roda
Que eu não quero me casar.
Oh, moça que está na roda
Escolha o moço que lhe agrada.
Este não me serve,
Aquele não me agrada.
Só a ti hei de querer,
Só a ti, só a ti,
Só a ti hei de querer.
E é com esta antiga cantiga de domínio público que dou início a minha história de hoje.
Fui uma menina criada muito presa, cheia de regras, não podia ter colegas; também não se tinha a facilidade de andar pelas ruas que temos nos dias de hoje- a vida era mais contida. Minha rotina diária era da escola para casa: filha de professores, sabe como é ( e ainda de quebra tinha de ser a melhor aluna, ser a mais quieta – dar o exemplo: odiava isso, mas ai de mim que fizesse qualquer cara feia). Não saíamos para lugar algum (meus pais trabalhavam muito), salvo algumas eventualidades.
Na época das festas de meio de ano eu deitava e rolava, podia sair (debaixo dos olhos de meus pais, é claro), ver gente, ver alegria. Tinha uma vida farta, contudo era uma criança muito triste, triste por não ter ninguém com quem conversar e dividir os meus pensamentos.
Os meses de junho/julho eram de férias escolares e - não era sempre - ia para uma a localidadezinha litorânea chamada Ilha de Itacuruçá onde, todos os anos passava as minhas férias de verão - livre, solta em cima de uma bicicleta, sentindo o vento em meu rosto nas caronas que pegávamos nos barcos carregados com bananas ou dentro do mar, coisa que gostava muito de fazer: nadar.
E nos meses de junho e julho, Itacuruçá virava uma festa só. Todos se reuniam em torno da praça central onde tinha um pequeno coreto. Vinhe gente de todos os cantos - a ilha ficava lotada e eu, feliz de mais da conta. A casa de meu avô ficava em frente ao rio e dentro do terreno desta casa, existia amendoeira bem frondosa. Essa amendoeira (coitada) sofria nas minhas mãos todos os anos, pois na véspera do dia de Santo Antônio, era lá que fazia as minhas simpatias de madrugada.
Era muito engraçado quando juntavam os primos e ficávamos esperando os pais dormirem para que pudéssemos entrar em ação. Era um tal de bacia d’água... Durante o correr do ano, como não era boba nem nada, fazia a manutenção dos pedidos e cuidava para não dar sossego ao pobre do santo: enchia os pés do dito cujo de pedidos. Uma das vezes quase derrubei o santo do altar . Perturbei tanto o coitado que me casei por duas vezes.
Para quem acredita no poder das simpatias, vou postar as dez que considero melhores, das quais nunca deixava de fazer.
E você faça com fé.

1. Compre uma pequena imagem de Santo Antônio, imagem esta que você consiga colocar no interior de um copo virgem. Atenção: o copo precisa ser virgem. Pingue no copo gotas de leite materno e afunde a imagem de cabeça para baixo, dizendo com convicção: “Santo Antônio, só vou tirá-lo daí quando eu conseguir o amor verdadeiro” ( então diga o nome da pessoa).

2- Para quem é ansioso e deseja descobrir o nome do futuro companheiro, deve fincar um facão virgem à meia-noite do dia 13 de junho numa bananeira. O líquido que escorrer da planta deve formar a letra do futuro amor.
Cuidado: finque o facão e não olhe nunca para trás, caso contrário a bananeira vai gemer e você correr de medo.
OPS! Hoje não faria mais esta simpatia: sou ambientalista e jamais machucaria um ser vivente.

3- Uma das mais antigas tradições diz que, para descobrir o futuro companheiro é preciso escrever os nomes dos candidatos em vários papéis. Um deles deve ser deixado em branco, sem nenhum nome (o que pode significar que o futuro companheiro não está listado ali). À meia-noite do dia 12 de junho, eles devem ser colocados dentro de uma bacia com água potável, que passará a madrugada no sereno. No dia seguinte, o nome que estiver mais aberto indicará o escolhido.

4- Para descobrir o tempo que falta para a tão sonhada data do casamento, na véspera do dia 13 de junho, à meia-noite, pegue uma aliança – que pode ser de qualquer parente – e coloque-a num cordão de ouro. Abra a mão esquerda e mire- a (tipo um pêndulo) bem no centro da mão direita. Pergunte então, para Santo Antônio, quantos anos faltam para o casório. O número de balanços informa quantos anos ainda restam para o grande dia.

5- Para aqueles mais afoitos ainda resta outro recurso: devem ir a um casamento e dar de presente aos noivos uma imagem de Santo Antônio, sem o Menino Jesus. Na hora da cerimônia pedir para que Santo Antonio arranje um casamento para você. Assim que a graça for alcançada, deve retornar à igreja e lá depositar a imagem do Menino Jesus.

6- Agora para os que já estão acompanhados mas ainda não subiram no altar e sonham com isso, existe uma saída: amarrar um fio de cabelo seu ao do namorado (todo cuidado é pouco, não deixe que ele perceba sua manobra).
Eles devem ser colocados aos pés do santo que, logo, logo, resolve a peleja.

7- À meia-noite do dia 12 de junho, quebre um ovo dentro de um copo virgem com água e o coloque no sereno. No dia seguinte, interprete o desenho que se formou: se aparecer algo semelhante a um vestido de noiva, véu ou grinalda, o casamento está próximo.
Esse babado é fortíssimo !

8 - Para a pessoa saber se o futuro marido será jovem ou mais velho, é preciso arranjar um ramo de pimenteira. De olhos fechados, ela deve pegar uma das pimentas: se a escolhida for verde, ele será jovem. Caso contrário, o casamento acontecerá com alguém de idade avançada.

9- A cultura popular acredita que há uma forma especial de fazer as pazes entre casais brigados. Para isso, é preciso um cravo e uma rosa. Os talos devem ser amarrados juntos a uma fita verde, na qual serão dados 13 nós. Durante o ato do nó, o devoto deve pedir para que Santo Antônio una-os outra vez.Depositar no altar ao lado de Santo Antônio.

10 - E por último a minha preferida: colocar o nome do namorado nos pés de Santo Antônio e pedir com muita fé, que o casamento saia logo.

E foi desse jeitinho que vivemos felizes até os dias de hoje.
V E RD A D E !

10 comentários:

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida Sil
Também brinquei assim... era divertido... coisas de adolescente romântica...
Valeu a pena recordar... tempo de inocência!!!
Bjs de paz

Célia Martins disse...

Parabéns,Silvana!Adorei seu blog.Sou carioca e professora tb,mas estou fora do brasil,por enquanto.

Lili Rebuá disse...

Adorei este blog por indicação da cátia Marx, que leu "A Origem do Mundo segundo os Guaranis" no meu blog e deixou um recadinho para conhecer o seu " Foi assim que ouvi dizer".
Muito bom, adorei...
Venha conhecer o meu cantinho!
perptua.blospot.com... Beijocas!

Laguardia disse...

Off Topic

Convido os amigos a fazerem parte do site http://mensalao.ning.com/ que tem como objetivo conscientizar os público sobre os crimes do mesnalão. Contamos com sua participação e sugestões

Mônica disse...

Silvana
Nunca vi tanta crendice junto.
Na minha cidade o padroeiro é santo antonio de Pádua. Mas ninguem pede pra casar.
Por isso aqui em casa tem duas solteironas.
com carinho Monica

fénix renascida disse...

A nossa tradição é semelhante. O que, aliás, nos une:)

Curioso subtítulo: o Brasil fala do Brasil.

Aqui só nos falta falar brasileiro, que agora já se escreve.


Um abraço:)

FÉNIX RENASCIDA (aliás, Sara)

http://srevoredo.blogspot.com

Cybercultrix disse...

Olá Silvana! Passei por aqui e deleitei-me em leituras pelo seu ma-ra-vi-lho-so blog, parabéns!

Branca disse...

Silvana,

Faz um tempo que não vinha aqui ler as suas maravilhosas histórias, que nos transportam para a cultura popular e que é um louvável trabalho de resgate, muito importante e saudável. Tinha saudade. O meu tempo perdeu-se um pouco desse tempo calmo de contar histórias, numa civilização dominada por horários e compromissos menos saudáveis.
Somos escravos de um tempo sem história.

Voltei e espero ter agora tempo para não a perder mais de vista.

Beijos

Nayara Borato disse...

Olá, desculpe invadir seu espaço assim sem avisar. Meu nome é Nayara e cheguei até vc através do Blog Viva e deixe viver. Bom, tanta ousadia minha é para convidar vc pra seguir um blog do meu amigo Fabrício, que eu acho super interessante, a Narroterapia. Sabe como é, né? Quem escreve precisa de outro alguém do outro lado. Além disso, sinceramente gostei do seu comentário e do comentário de outras pessoas. A Narroterapia está se aprimorando, e com os comentários sinceros podemos nos nortear melhor. Divulgar não é tb nenhuma heresia, haja vista que no meio literário isso faz diferença na distribuição de um livro. Muitos autores divulgam seu trabalho até na televisão. Escrever é possível, divulgar é preciso! (rs) Dei uma linda no seu texto, vou continuar passando por aqui...rs





Narroterapia:

Uma terapia pra quem gosta de escrever. Assim é a narroterapia. São narrativas de fatos e sentimentos. Palavras sem nome, tímidas, nunca saíram de dentro, sempre morreram na garganta. Palavras com almas de puta que pelo menos enrubescem como as prostitutas de Doistoéviski, certamente um alívio para o pensamento, o mais arisco dos animais.



Espero que vc aceite meu convite e siga meu blog, será um prazer ver seu rosto ali.

http://narroterapia.blogspot.com/

Elvira Carvalho disse...

Um post muito interessante.( Não pelas simpatias, casei com 20 anos tenho 64 e se voltasse atrás escolheria de olhos fechados o mesmo homem.)
Mas pelo que encerra de cultura popular e de recordações.
Um abraço e um santo domingo