sexta-feira, 27 de maio de 2011

DA PEDRA DO SAL À CIDADE DO SAMBA.


Foi no bairro da Saúde, local do Rio de Janeiro, onde existiam os mercados de escravos, as "casas de engorda" e toda a infra-estrutura do comércio escravagista nos séculos XVIII e XIX. A Pedra do Sal, que fica no pé do Morro da Conceição, no mesmo bairro, nas cercanias da Praça Mauá, era o local conhecido como “Pequena África” onde os negros eram negociados como escravos logo que desembarcavam no Porto do Rio de Janeiro, vindos da África e da Bahia. Mais tarde, livres, fizeram ali seu ponto para rituais, cultos religiosos, pastoris, batuques e rodas de capoeira. Sambistas e chorões, como João da Baiana, Donga e Pixinguinha também se reuniam na Pedra do Sal.
A Pedra do Sal, assim chamada devido ao sal que ali era desembarcado e comercializado, foi o berço do Samba e do Chorinho carioca no final do século XIX. O ponto de encontro do ritmo carioca era um ambiente recheado de inspirações vivas de grupos de samba, ranchos e grupos carnavalescos.
O Samba nasceu efetivamente dos terreiros da região portuária sob contribuições decisivas das músicas que eram cantadas e, sobretudo, das reuniões ali promovidas. Tendo a cidade sido durante muito tempo o foco das migrações internas do Brasil, o samba beneficiou-se dessa fusão que absorveu durante anos características importantes das manifestações culturais trazidas pelos negros e daqueles nascidos em terras brasileiras como resultado das contribuições africanas, indígenas e portuguesas. Por isso a Saúde é reconhecida como berço da cultura popular carioca.
Dos moradores do lugar destacam-se Machado de Assis, um dos maiores escritores brasileiros, nascido no morro do Livramento e João da Baiana, compositor e percussionista carioca, introdutor do pandeiro no samba.
Nas décadas de 20 e 30, os ranchos de carnaval atingiram o auge. Deixaram de ser a manifestação popular da Pedra do Sal e passaram a fazer sucesso nas camadas mais altas da sociedade.
Foram em bairros como Saúde, Gamboa, Providência e Santo Cristo, que também se originou e se definiu o botequim. O gênero surgiu a partir das antigas "botecas"- pequenos armazéns de secos e molhados em que se encontrava de tudo. Os cariocas costumavam passar pelas "botequinhas" para completar as compras que faziam nas feiras, e aproveitavam para degustar alguns tira-gostos, acompanhados de um vinho. Sem ser restaurantes, essas casas, uma mistura de armazém e bar, criaram um estilo que sobrevive em todo o país, com alguns exemplares autênticos remanescentes dos velhos tempos.
Embora situados a muito poucos minutos do burburinho da Praça Mauá, da Central do Brasil e da Avenida Rio Branco, um dos maiores eixos de circulação do centro da cidade do Rio de Janeiro, os bairros da Saúde, Gamboa, Providência e Santo Cristo refletem, pela vida de sua população, uma significativa distância comportamental do restante da cidade, revelada em hábitos, padrões de comportamento e formas de uso do espaço público não mais encontrados no restante da cidade. A imagem cultural do local é preservada e transmitida pela permanência das festas coletivas, das cadeiras nas calçadas e das conversas nos fins de tarde.
O reconhecimento da Pedra do Sal como patrimônio cultural do Estado do Rio de Janeiro e o seu conseqüente tombamento permite que se compreenda que este local tem herança cultural ancestral de grande importância para a cultura negra carioca que lá, hoje, fez despontar todo encanto e magia da Cidade do Samba e do carnaval do Rio de Janeiro.

(Fonte: Nações e Cultura da Cor)

2 comentários:

disse...

Cidade do samba? Siim eu só poderia estar de volta no seu blog mesmo pra poder tomar uma boa dose de Brasil! Me desculpe pelo sumiço mas é que vida de estudante é difícil, mas agora eu voltei a ativa e tenho já alguns livros pra comentar... haha me aguardem. Adoro sempre suas histórias, o blog é maravilhoso, parabéns da sua fã de carteirinha.
Um beijão cheio de saudades e me escreve lá no livros :*

Imaginante disse...

Parabéns por esse blog tão cultural.
Adorei a matéria sobre o besouro jóia... muito interessante.

Abraços
Imaginante.