Depois de muito refletir, decidiu que, assim que o bebê nascesse, ela o colocaria dentro de uma bacia de cobre e o jogaria nas águas do rio. E foi o que fez logo que o menino nasceu.
Atenta a tudo que acontece nos seus domínios, a mãe-d’água ficou indignada com a atitude da jovem mãe. Como podia ela entregar o filho recém-nascido ao reino das águas? Então pegou o menino em seus braços e levou-o com ela.
Mas estava tão furiosa, que as águas se revoltaram, fizeram ondas enormes e alagaram as margens, engolindo as árvores, e se estenderam tanto pela terra, mas tanto, que o rio transformou-se numa lagoa cristalina com um imenso espelho de 15 quilômetros de largura.
Mas a mãe do bebê não podia esquecer seu filhinho. Vivia amargurada com sua atitude. Ah, se pudesse saber onde estava o seu menino, e o que lhe acontecera!... Noite após noite, ela ia até a beira da lagoa e ali ficava de olhar parado sobre as águas, na esperança de que a luz do luar indicasse onde ele estaria. Porém o luar nada lhe dizia, nada lhe mostrava. Contudo, se seus olhos nenhum sinal podiam descobrir, seus ouvidos podiam perceber o som estranho vindo do fundo da lagoa, um choro de criança novinha, parecia um bebê querendo mamar.
O caso começou a ser falado e comentado; todos queriam ouvir o choro que vinha das águas. Mas, pouco a pouco, as pessoas foram se afastando daquele lugar e ninguém mais quis construir casa perto da lagoa. É que achavam muito triste ouvir, uma noite atrás da outra, o choro de uma criança novinha.
E assim os dias foram se seguindo às noites, no permanente passar do tempo, até que uma noite o bebê deixou de ser ouvido. Estaria o encanto terminado? Todo mundo começou a se aproximar cada vez mais da lagoa.
Ora, numa certa manhã, as moças que costumavam vir ali lavar roupa viram surgir das águas a figura de um menino, que sorria para elas um sorriso alegre como só os bebês têm. Tomaram um susto tão grande , que fugiram largando a roupa lá, e só voltaram à tarde. Aí, no mesmo lugar, a figura surgiu novamente, só que agora era de um moço bonito, de barba ruiva, que correu para abraçá-las. Mais um susto e mais uma corrida para bem longe dali. Quando caiu à noite, as moças voltaram para buscar a roupa, certas de que não teriam mais nenhuma visão. Mas... eis que de, novo, no mesmo lugar, elas vêem aparecer a mesma figura, desta vez com um homem de barba ruiva.
Desde esse dia, muitas pessoas já o viram e, curiosamente, ele não quer conversa com os homens, mas quando vê uma moça corre para ela - não para fazer mal, somente para abraçá-la e beijá-la. Como não sabem as suas intenções, as moças têm medo de Barba-Ruiva e não se atrevem a itr lavar roupa sozinhas.
Pobre Barba-Ruiva! Só está em busca de carinho e de alguém que quebre o seu encanto. Como isso pode acontecer? Bem, é preciso que surja uma mulher corajosa, que não tenha medo de se aproximar de Barba-Ruiva e jogar água benta sobre sua cabeça. No dia em que isso acontecer, Barba-Ruiva voltará a ser gente, como deveria ser desde que nasceu.
Onde estará a mulher, jovem ou não, que seja decidida e corajosa o bastante para desencantá-lo? Pelo visto ainda não nasceu.
Enquanto isso, o Barba-Ruiva continua seguindo a sua sina pelas águas espelhadas da Lagoa de Paranaguá.