domingo, 28 de fevereiro de 2010

A LENDA DA VITÓRIA RÉGIA.


Há muitos anos, nas margens do majestoso rio Amazonas, as jovens e belas índias de uma tribo  se reuniam para cantar e sonhar seus sonhos de amor.
Ficavam por longas horas admirando a beleza da lua branca e o mistério das estrelas. Enquanto o aroma da noite tropical enfeitava aqueles sonhos, a lua deitava uma luz intensa nas águas fazendo Naia, a mais jovem e mais sonhadora de todas, subiu numa árvore alta para tentar tocar a lua, não obtendo êxito.
Inconformadas, resolveram escalar as montanhas distantes para sentir com suas mãos a maciez aveludada da lua, mas novamente elas falharam.
Quando elas chegaram lá, a lua estava tão alta que todas retornaram a aldeia desapontadas.
Elas acreditaram que se pudessem tocar a lua, ou mesmo as estrelas, elas se transformariam em uma delas. Na noite seguinte, Naia deixou a aldeia esperando realizar seu sonho. Tomou o caminho do rio para encontrar a lua nas negras águas. Lá, imensa e resplandescente, a lua descansava calmamente refletindo sua imagem na superfície da água.
Naia  em sua inocência, pensou que a lua tinha vindo banhar-se no rio e permitir que fosse tocada. Naia mergulhou nas profundezas das águas desaparecendo para sempre.
A lua  sentindo pena daquela tão jovem vida agora perdida, transformou Naia em uma flor gigante - a Vitória Régia - com um inebriante perfume e pétalas que se abrem nas águas para receber em toda sua superfície, a luz da lua.


(Desconheço a autoria das imagens publicadas acima).

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A MANDIOCA, O CORPO DE MANI.

A mandioca é o alimento principal de várias culturas indígenas. Os alimentos básicos vêm cercados de histórias miraculosas, que ressaltam sua importância essencial para a vida do povo.
Assim acontece com o trigo, o arroz, o milho, a batata, entre outros.
As religiões tomam alguns desses alimentos e os transformaram em sacramentos, que sinalizam a vida eterna, anseio de todos os sonhos.
Na cultura Tupi-Guarani, guarda-se uma bela história sobre a origem da mandioca.
Em épocas remotas, a filha de um poderoso Tuxaua foi expulsa de sua tribo e foi viver em uma velha cabana distante, pelo fato de ter engravidado misteriosamente.
Parentes longíquos iam levar-lhe comida para seu sustento e assim, a índia viveu até dar a luz a um lindo menino, muita branco o qual chamou de Mani.
A notícia do nascimento se espalhou por todas as aldeias e fez o grande chefe Tuxaua esquecer as dores e rancores e cruzar os rios para ver sua filha. O novo avô se rendeu aos encantos da linda criança, a qual se tornou muito amada por todos.
Mas o tempo gira nas rodas do catavento e ao completar três anos, Mani morreu de forma também misteriosa, sem nunca ter adoecido.
A mãe ficou desolada e enterrou o filho perto da cabana onde vivia e sobre ele derramou seu pranto por horas. Mesmo com os olhos cansados e cheios de lágrimas ela viu brotar no lical da sepultura uma planta que cresceu rápida e fresca.
Todos vieram ver a planta miraculosa que mostrava raízes grossas e brancas em forma de chifre, e todos queriam prová-la em honra daquela criança que tanto amavam.
Desde então a mandioca passou a ser um excelente alimento para os índios e se tornou um importante alimento em toda a região.

Desconheço a autoria das imagens publicadas acima.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O BRASIL NA BOCA DO POVO.

A influência dos negros na culinária brasileira aparece onde nem imaginávamos, podendo  até desafiar algumas de nossas certezas. Junto com os portugueses e os índios, os escravos ajudaram a fomentar hábitos e pratos que nasceram no Brasil Colônia e permanecem em nossa mesa até hoje.

Quando os primeiros portugueses se mudaram para o Brasil, não encontraram em nossas terras alimentos familiares como o trigo. Havia aqui uma imensa variedade de frutas e tubérculos, mas muitos desses itens, que se transformavam em iguarias nas mãos dos índios, eram estranhos aos olhos e ao paladar dos colonizadores. 
Trazer tudo da terrinha, nem pensar: o transporte de navio era demorado e não havia como conservar bem os alimentos. O jeito era importar alguns itens, mas principalmente adaptar o paladar aos gêneros encontrados no Brasil. No engenho, quem colocava de fato a mão na massa na maioria das vezes eram as escravas – e a comida acabava sofrendo interferência africana no modo de preparar. A farofa, por exemplo, foi criação delas.

 Assim, podemos falar que a influência africana na culinária brasileira atuou em duas frentes: no modo de preparar, temperar e combinar os alimentos e nos ingredientes trazidos do continente africano, pelos colonizadores. Nessa segunda categoria, entra a banana. Originária da Ásia, a banana seguiu rumo à África e foi partindo de lá que chegou aqui. Embora também dispuséssemos de uma variedade nativa, de nome pacova, a fruta é tida pelo antropólogo Câmara Cascudo como a maior contribuição africana à alimentação no Brasil. Enquanto o modo de preparo predominante na cozinha portuguesa era o cozimento, os escravos preferiam assar os alimentos, como os índios.

Nem sempre índios e africanos tinham o mesmo gosto: os primeiros desprezavam o caldo do feijão, que era comido seco, enquanto escravos e portugueses apreciavam uma comida molhada. Como o sal era caro, os africanos habituaram- se a salgar pouco e a caprichar na pimenta. Verduras eram um acompanhamento comum à mesa deles, uma novidade para os portugueses. Couve, quiabo e taioba, entre outros, eram corriqueiras. “Com a europeização da mesa é que o brasileiro tornou-se um abstêmio de vegetais”, escreve Gilberto Freyre em "Casa-Grande e Senzala", entendendo-se por europeização a influência, sobretudo da França, a partir do século XIX.
Outro hábito que os colonizadores estranharam: acompanhar as carnes com frutas. Como Câmara Cascudo nota, os escravos comiam lombo com abacaxi e feijão-preto com laranja. 
Então, é bom lembrar: se a feijoada (foto 2) tem raízes européias, as rodelas de laranja e a couve refogada são obra da influência escrava na culinária brasileira. Não eram apenas o conforto e a quantidade de comida que separavam as refeições feitas na casa-grande e na senzala. Enquanto os colonos tinham o hábito de conversar e tomar algo enquanto comiam, escravos preferiam comer calados, sem beber nada, como a maioria dos orientais. Algumas vezes, deixavam a bebida para o fim.

A conversa à mesa e o hábito da sobremesa também vieram dos portugueses.Falando em doces, é claro que  naqueles tempos,  o açúcar era artigo de luxo. Assim, os doces não eram presenças marcantes no cardápio dos escravos, embora eles dessem um jeito de acrescentar algumas guloseimas à dieta – como a rapadura, a garapa e o melado.
Os deliciosos doces portugueses, ricos em ovos, eram reservados para datas especiais. No dia a dia, as senhoras faziam quitutes para serem vendidos nas ruas, pelas escravas. Desse modo, as negras aprenderam a empregar o açúcar na culinária. Nasciam os doces brasileiros: pé-de-moleque, cocada, pamonha, canjica, mingau, compotas, frutas secas. 
Enquanto isso, doces conhecidos pelos portugueses sofriam algumas modificações locais: é o caso do arroz-doce, feito lá com gemas de ovo e aqui com leite de coco. Sim, o leite de coco nasceu no Brasil por obra dos escravos, que já conheciam bem o coco.
Trata-se de um ingrediente ainda hoje requisitado na nossa culinária – mesmo quem não é íntimo das panelas deve ter reparado que, além de fazer parte de várias receitas, ele rega peixes e incrementa itens que vão de frango a risotos. Ralar o coco também é uma técnica africana, da mesma forma que montar um prato em cima da folha de bananeira ou mexer a bóia com colher de pau. Só há relato do uso de milho nos doces no começo do século XVII.

Embora o grão já fosse conhecido pelos índios, portugueses e escravos, não era  muito valorizado na alimentação e servia mais como ração dos animais. Isso até as portuguesas o incorporarem às receitas: o milho passou a entrar na composição de bolos, pudins, papas, angus e mungunzás eram obra das mãos das negras.

Enfim, nossa culinária já foi muito mais simples e natural. Mas mesmo hoje, em meio a tantas opções, continua sendo delicioso abrir mão do pacotinho de chocolate e dar uma bela colherada em um doce de abóbora, ou se lembrar de que o prosaico pedaço de banana que acompanha um prato de comida tem uma história linda por trás.

(Fonte de pesquisa: vida simples)
Desconheço a autoria das fotos publicadas acima. 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

ERINLÉ - INLÉ - IBUALAMA.


Erinlé, o caçador orixá guerreiro,um dia conheceu Orunmilá e tornaram-se amigos.
Erinlé necessitava de dinheiroe seu amigo Orunmilá emprestou-lhe o necessário. O tempo passou e Orunmilá teve que voltar a Ifé. Como Erinlé não tinha como saldar a dívida, foi procurar a orientação do babalaô. O oráculo mandou que fizesse oferendas, pois assim conseguiria todo dinheiro que devia e muito mais. Mas as oferendas eram demasiadamente dispendiosas e Erinlé não pode fazer o sacrifício.
Sem saída, Erinlé estava completamente envergonhado. Foi até um ermo local onde costumava caçar, depositou seus instrumentos de caçador no chão e desapareceu solo adentro. Junto ao seu ofá restou apenas uma quartinha d'água.
Seus filhos, desesperados, procuraram Orunmilá para orientá-los na busca do pai. Orunmilá disse-lhes que talvez não o vissem nunca mais, mas que fizessem oferendas e teriam ao menos um sinal do caçador.
Os filhos de Erinlé o procuraram por tudo o que foi canto.
Um dia, chegando ao local misterioso onde Erinlé desaparecera, depararam com as armas do pai junto à quartinha d'água. Ali então ofereceram muitos galos por Erinlé, chamando insistentemente pelo pai. Logo a quartinha transbordou e a água passou a jorrar em abundância, escorrendo pelo chão. O jorro d'água tomou um curso mata adentro, avolumou-se e formou um novo rio, que todos sabiam ser o próprio Erinlé.
Os parentes seguiram o rio, que os guiou até a sua casa. No caminho, Erinlé os fez saber que desejava que os galos a ele oferecidos fossem soltos vivos.
Assim foi feito e dizem que os galos de Erinlé estão vivos até hoje e que ninguém ousa matá-los.
Erinlé, o rio, continuou a correr para sempre.
Em Edê, Erinlé encontra-se com outro rio É Oxum, o rio Oxum, que parte  de Ijumu e corre ao encontro de Erinlé.
Em Edê os dois se juntam num único caudaloso e calmo rio, são as águas tranquilas que correm juntas para a lagoa.
Da união de Oxum com Erinlé nasceu Logum Edé.
tempos depois, junto ao rio Erinlé, num lugar chamado Ibualama, pela profundeza das águas, os devotos instituíram um templo para Erinlé.
por causa do nome do lugar, o Caçador, que também se chama Inlé,  passou a ser conhecido como Ibualama.


(Prandi, Reginaldo. In Mitologia dos Orixás).
 
Imagem do artista plástico baiano Leo Santana

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

IROCO.

Iroco, a árvore centenária em cuja sua copa  frondosa habitam aves misteriosas, temidas portadoras do feitiço, mas seu culto no Brasil é raro. Iroco ou Tempo, como também é conhecido, é um orixá muito antigo, foi a  primeira árvore plantada e pela qual todos os restantes orixás desceram à Terra. Iroco é a própria representação da dimensão Tempo, a ancestralidade, os nossos antepassados, pais, avós, bisavós ... 
 No Brasil se diz que Iroco habita a gameleira branca e nos terreiros, costuma-se manter uma dessas árvores como morada de Iroko, assinalada por um “ojá” (laço de pano branco) ao seu redor.
Diz-se a lenda  que Irôco sempre  aparece a noite num bambuzeiro, aumentando e diminuindo de tamanho.

Desconheço  associação com santo católico.
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No começo dos tempos, a primeira árvore plantada foi Iroco. Iroco foi a primeira de todas as árvores, mais antiga que o mogno, o pé de obi e o algodoeiro. na mais velha das árvores de Iroco, morava seu sespírito. E o espírito de Iroco era capaz de muitas mágicas e magias. Iroco assombrava todo mundo, assim se divertia. À noite saía com uma tocha na mão, assustando os caçadores. Quando não tinha o que fazer, brincava com as pedras que guardava nos ocos de seu tronco. Fazia muitas mágicas para o bem e para o mal. Todos temiam Iroco pelos seus poderes e quem o olhasse de frente enlouquecia até a morte.
Numa certa época, nenhuma das mulheres da aldeia engravidava. Já não havia crianças pequenas no povoado e todos estavam desesperados. Foram então que as mulheres tiveram uma idéia de recorrer aos mágicos poderes de Iroco. Juntaram-se em círculo ao redor da árvore sagrada, tendo cuidado para manter as costas voltadas para o tronco. Não ousavam olhar para a grande planta face a face, pois os que olhavam Iroco de frente enlouqueciam e morriam. Suplicaram a Iroco, pediram a ele para que lhes desse filhos.
Ele quis logo saber o que teria em troca. As mulheres eram,em sua maioria, esposas de lavradores e prometeram a Iroco milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros. cada uma prometia o que o marido tinha para dar.Uma das suplicantes, chamada Olurombi, era mulher do entalhador e seu marido não tinha nada daquilo para oferecer. Olurombi não sabia o que fazer e, no desespero, prometeu dar a Iroco o primeiro filho que tivesse.
Nove meses depois a aldeia alegrou-se com o choro de muitos recém-nascidos. As jovens mães, felizes e gratas, foram levar a Iroco as suas prendas.
Em torno dotronco de Iroco depositaram as suas oferendas. Assim Iroco recebeu milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros.Olurombi contou toda a história para seu marido, mas não pode cumprir  sua promessa. Ela e o marido apegaram-se demais ao menino prometido. No dia da oferenda, Olurombi ficou de longe, segurando nos braços trêmulos, temerosa, o filhinho tão querido.
E o tempo passou.
Olurombi mantinha a criança longe da árvore e, assim, o menino crescia forte esadio. Mas, um belo dia, passava Olurombi pelas imediações de Iroco, entretida que estava,  vindo do mercado, quando, no meio da estrada, bem na sua frente, saltou o temível espírito da árvore.
- Tu me prometeste o menino e não cumpriste a palavra dada. Transformo-te então num pássaro, para que vivas sempre aprisionada em minha copa.
E transformou Olurombi num pássaro que voou ara a copa de Iroco para ali viver para sempre.Olurombi nunca mais voltou para casa, e o entalhador a procurou em vão ppor toda parte. Ele mantinha o menino  em casa, longe de todos. Mas os que passavam perto da árvore ouviam sempre um pássaro cantar uma estranha cantiga sobre oferenda feita a Iroco.
Até que um dia, quando o artesão se aproximou dali, ele próprio escutou o tal pássaro. Ouvindo o relato de uma história que julgava esquecida, o marido de Olurombi entendeu tudo imediatamente. Ele tinha que salvar a sua mulher! Mas como, se amava tanto seu pequeno filho?
Ele pensou e pensou e teve uma grande idéia.
Foi à floresta, escolheu o mais belo lenho de Iroco, levou-o para casa e começou a entalhar. De madeira entalhada fez uma cópia do rebento, o mais perfeito boneco que jamais havia esculpido. Fez o boneco com os doces traços do filho, sempre alegre, sempre sorridente. Depois poliu e pintou o boneco com esmero, preparando-o com a água perfumada das ervas sagradas. Vestiu a figura de pau com as melhores roupas do menino e a enfeitou com ricas jóias de família e raros adornos. 
Quando pronto, ele levou o menino de pau a Iroco e o depositou nos pés da árvore sagrada.Iroco gostou muito do presente. Era o menino que ele tanto esperava! E o menino sorria sempre, uma imutável expressão de alegria. Iroco apreciou sobremaneira o fato de que o garoto jamais se assustava quando seus olhos se cruzavam. Não fugia dele como os demais mortais, não gritava de pavor nem lhe dava as costas, com medo de olhar de frente.Iroco estava feliz. Embalando a criança, seu pequenino menino de pau, batia ritmadamente com os pés no solo e cantava animadamente. Tendo sido paga, enfim, a velha promessa, Iroco devolveu a Olurombi a forma de mulher. Aliviada e feliz, ela voltou para casa, voltou para o marido artesão e para o filho, já crescido e enfim livre da promessa.
Alguns dias depois, os três levaram para Iroco muitas oferendas. Levaram ebós de milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros, laços de tecido e de estampas coloridas para adornar o tronco de árvore.Eram presentes oferecidos por todos os membros da aldeia, felizes e contentes com o retorno de Olurombi.
Até hoje todos levam oferendas a Iroco.
Porque Iroco dá o que os devotos pedem.
E todos dão para Iroco o prometido.

(Prandi, Reginaldo. In Mitologia dos Orixás)
Desconheço a autoria das imagens publicadas acima.

Salve Iroko I Só! Eeró!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

OXUMARÊ.

Oxumarê, o senhor  da duplicidade, o arco-íris, é o deus serpente que controla a chuva, a fertilidade da terra e, por conseguinte,  a prosperidade propiciada pelas boas colheitas. Dono de uma personalidade forte, muitas vezes é generoso.
É o filho mais novo e preferido de Nanã, irmão de Omulu. É uma entidade branca muito antiga, participou da criação do mundo enrolando-se ao redor da terra, reunindo a matéria e dando forma ao Mundo. Sustenta o Universo, controla e põe os astros e o oceano em movimento. Rastejando pelo Mundo, desenhou seus vales e rios. É a grande cobra que morde a cauda, representando a continuidade do movimento e do ciclo vital. Sua essência é o movimento, a fertilidade, a continuidade da vida.

Correspondência com santos católicos: São Bartolomeu.
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Conta-se que Oxumarê não tinha  simpatia pela Chuva.
Toda vez que ela reunia as nuvens
e molhava a terra por muito tempo,
Oxumarê apontava para o céu ameaçadoramente
com sua faca de bronze
e fazia com que a Chuva desaparecesse, dando lugar ao arco-íris.
Um dia Olodumare contraiu uma moléstia que o cegou.
Chamou Oxumarê, que da cegueira o curou.
Olodumare temia, entretanto, perder de novo a visão
e não permitiu que Oxumarê voltasse à Terra para morar.
Para ter Oxumarê por perto, determinou que morasse com ele,
e que só de vez em quando viesse à Terra em visita, mas só em visite.
Enquanto Oxumarê não vem à Terra,
todos podem vê-lo no céu com sua faca de bronze,
sempre se fazendo no arco-íris para estancar a Chuva.
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Oxumarê era um rapaz muito bonito e invejado. Suas roupas tinham todas as cores do arco-íris e suas jóias de ouro e bronze fasiscavam de longe. Todos queriam aproximar-se de Oxumarê, mulheres e homens, todos queriam seduzí-lo e com ele se casar. Mas Oxumarê era também muito contido e solitário. Preferiia andar sozinho pela abóboda celeste, onde todos costumavam vê-lo em dia de chuva.
Certa vez, Xangô viu Oxumarê passar, com todas as cores de seu traje e todo o brilho de seus metais. Xangô conhecia a fama de Oxumarê de não deixar ninguém dele se aproximar. Preparou então uma armadilha para capturar o Arco-Íris.
mandou chamá-lo para uma audiência em seu palácio e, quando Oxumarê entrou na sala do trono, os soldados de Xangô fecharam as portas e janelas, aprisionando Oxumarê junto com Xangô. 
Oxumarê ficou desesperado e tentou fugir, mas todas as saídas estavam trancadas pelo lado de fora. Xangô tentava tomar Oxumarê nos braços e Oxumarê escapava, correndo de um canto para o outro. Não vendo como se livrar, Oxumarê pediu ajuda a Olorum que ouviu a sua súplica. No momento em que Xangô imobilizava Oxumarê, esse transformou-se numa cobra, que Xangô largou com nojo e medo.
A cobra deslizou pelo chão em movimentos rápidos e sinuosos. Havia uma pequena fresta entre a porta e o chão da sala e foi por ali que escapou a cobra, foi por ali que escapou Oxumarê. Assim livrou-se Oxumarê do assédio de Xangô.
Quando Oxumarê e Xangô foram feitos orixás, Oxumarê foi encarregado de levar água da Terra para o palácio de Xangô no Orum, mas Xangô não pode nunca se aproximar de Oxumarê.

(Prandi, Reginaldo. In Mitologia dos Orixás).
Desconheço a autoria da foto publicada acima.

ARRUMBOBÔ OXUMARÊ!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

O CABOCLO D'ÁGUA.

O Caboclo d’Água é um gigante que mora no lugar
mais fundo do rio São Francisco, em uma gruta toda feita de ouro. Ele persegue os barqueiros sem dó nem piedade, vira as embarcações e também afugenta os peixes só para maltratar os pescadores.
Matá-lo nem pensar ! Tem o couro tão duro, mas tão duro quem nem atirar nele adianta: as balas não o penetram.
Os pescadores, para afugentá-lo, costumam pintar uma estrela debaixo de seus barcos.
O pescadores quando sentem que estão sendo perseguidos pelo Caboclo d’Água, oferecem um pedaço de fumo ao monstro, o que aparentemente o acalma. Mas não por muito tempo.
Algumas pessoas já tentaram chegar à gruta que é sua morada por causa do ouro, mas todas foram encontradas mortas algum tempo depois.É uma espécie de maldição lançada pelo caboclo, quem sai da gruta não pode ficar vivo para contar o que viu.
É por isso que no rio São Francisco, os barcos costumam apresentar figuras estranhas e assustadoras esculpidas nas proas. São chamadas de "carrancas" que servem para afugentar os seres que habitam o rio, tais como: o Caboclo-d’Água, a Mãe-d’Água e o Minhocão.

Desconheço a autoria da imagem publicada acima.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

OS IBEJIS.

Associadas ao culto das mães primeiras encontramos  duas divindades infantis muito festejadas no Brasil, os gêmeos Ibejis, os orixás crianças que  presidem a infância e a fraternidade , a duplicidade e o lado infantil dos adultos. 
  
Correspondência com os santos católicos:  os irmãos São Cosme e São Damião.
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Os Ibejis, os orixás gêmeos, viviam para se divertir. Não era por  um acaso que eram filhos de Oxum e Xangô. Viviam tocando uns pequenos tambores mágicos, que ganharam de presente de sua mãe adotiva, Iemanjá.
Nessa mesma época, a Morte colocou armadilhas em todos os caminhos e começou a comer todos os humanos que caíam nas suas arapucas. Homens, mulheres, velhos, crianças, ninguém escapava da voracidade de Icu, a Morte. Icu pegava todos antes de seu tempo de morrer haver chegado. O terror se alastrou entre os humanos. Sacerdotes, bruxos, adivinhos, curandeiros, todos se juntaram para pôr um fim à obesessão de Icu. Mas  todos foram vencidos. Os humanos continuavam morrendo antes do tempo.
Os Ibejis, então, armaram um plano para deter Icu. Um deles foi pela trilha perigosa  onde Icu armava sua mortal armadilha. O outro seguia o irmãos escondido,  acompanhando-o à distância por dentro do mato. O Ibeji que ia pela trilha  ia tocando seu pequeno tambor. Tocava com tanto gosto e maestria que a Morte ficou maravilhada, não quis que ele morresse e o avisou da armadilha.
Icu se pôs a dançar inebriadamente, enfeitiçada pelo som do tambor do menino. Quando o irmão se cansou de tanto tocar, o outro, que estava escondido no mato, trocou de lugar com o iirmão, sem que Icu nada percebesse. E assim um irmão substituía o outro e a música jamais cessava.
E Icu dançava sem fazer sequer uma pausa. Icu, ainda que estivesse muito cansada, não conseguiu parar de dançar. E o tambor continuava soando seu ritmo irresistível. Icu já estava esgotada e pediu ao menino que parasse a música por uns instantes para que ela pudesse descansar.
Icu implorava, queria descansar um pouco. Icu já não aguentava mais dançar seu tétrico bailado.
Os Ibejis então lhe propuseram um pacto.
A música pararia, mas a Morte teria que jurar que retiraria todas as armadilhas.
Icu não tinha escolha, rendeu-se.
Os gêmeos venceram.
Foi assim que os Ibejis salvaram os homens e ganharam fama de muito poderosos, porque nenhum outro orixá conseguiu ganhar aquela peleja com a Morte.
Os Ibejis são poderosos, mas o que eles gostam mesmo é de brincar.


(Prandi, Reginaldo. In Mitologia dos Orixás) 
Desconheço a autoria das fotos publicadas acima.

OMI BEIJADA !

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

NOSSO SENHOR DOS PASSOS: UMA MISTURA DE CACHAÇA E RELIGIOSIDADE.

Um ritual quase secreto marcou, nessa quarta-feira de cinzas, o início da Quaresma (= quarenta dias para o que há de vir) no histórico distrito  de Morro Vermelho, em Caeté, a 60Km de Belo Horizonte: um lugar onde o tempo passa bem devagar.  
A igreja é o destino dos cavalheiros que vão cumprir uma missão centenária, onde nesta hora o  padre, mulheres e crianças não participam. Como ocorre há 200 anos, um grupo de homens  se reúnem na Matriz  de Nossa Senhora de Nazareth para lavar a imagem do Senhor dos Passos com uma mistura de cachaça e manjericão . Na  cerimônia, que dura em média uma hora, a bebida preciosa é cuidadosamente recolhida  e armazenada em garrafas. Reza a lenda que a aguardente tem poderes milagrosos, tornando-se um santo remédio para os males do corpo e da alma "de quem tem fé", segundo os moradores da localidade.
Diante do Senhor dos Passos, que só sai às ruas  na procissão da Semana Santa,  a primeira providência do grupo é  a retirada da coroa, que passa pela cabeça de todos. Depois, a  imagem de Cristo esculpida em madeira no tamanho natural, é despida e começa o banho de cachaça. A aguardente que escorre pelo corpo de Nosso Senhor vai direto para a
uma gamela. Logo em seguida, as mãos de Cristo são banhadas. E é nessa cachaça  que eles provam em sinal de fé. Depois de seca com as toalhas de linho da igreja, a imagem começa a ser vestida com roupas limpas e volta para  o altar. O toque do sino avisa que Nosso Senhor está pronto. Nesse momento, todos entram na igreja para rezar, tocar  a imagem e levar para casa um pouco da bebida milagrosa.  Durante esses 40 dias , a imagem visita as fazendas e povoados rurais, num convite às comunidades para as solenidades da Semana Santa.
Como para tudo existe uma explicação, essa história começou há muitos anos,segundo os moradores mais antigos, como forma de se preservar os objetos sacros de madeira das infestações dos cupins. 
Outra  curiosa tradição da região, é a "Encomendação das Almas". Nas madrugadas da Quaresma, pessoas vestidas de preto saem pelas ruas do distrito, parando nas encruzilhadas a fim de rezar e cantar, lembrando a quem está dormindo que " o sono é irmão da morte".

A procissão do Senhor dos Passos -  uma representação de Jesus a caminho do calvário -,  é celebrada no segundo sábado e domingo da Quaresma. Dentre os participantes estão os penitentes, promesseiros que, inspirados na  imagem de Senhor dos Passos, acreditam que é através da dor, do sofrimento, da privação ou da exposição pública da sua fragilidade, que se manifesta mais verdadeiramente a expressão da fé. 
No Brasil, dada a composição de suas origens populacionais, a religiosidade católica toma contornos decisivamente populares e os santos elevam-se ao status de semi-deuses, fazendo por vezes o papel tão relevante que os devotos, nos momentos de maior necessidade, buscam por eles e não por Deus ou pelo filho Jesus Cristo. 
Daí o entendimento popular de que os santos são especializados em certas áreas de intervenção, para doenças,  para dívidas, para casamentos, causas impossíveis ou para achar objetos perdidos.
  
É pessoal, como dizia o poeta, a fé enche a vida de esperança.

Desconheço a autoria da foto publicada acima.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A LAVAGEM DAS ESCADARIAS DO NOSSO SENHOR DO BONFIM - BAHIA.

A Lavagem das Escadarias do Bonfim (foto 4) é considerada a segunda maior manifestação popular da Bahia, perdendo apenas para o carnaval.
A capela do Senhor do Bonfim ( foto 1) foi inaugurada no ano de 1745. Naquela época, a  igreja era lavada pelos escravos  e, aos poucos, esse ato foi  se popularizando e  transformando-se numa festa. O culto ao Senhor do Bonfim então, começa a assumir uma extraordinária proporção em Salvador.
A festa teria se originado do culto a Oxalá
( o culto a Oxalá é celebrado em Ifé e tem como características a lavagem de seus objetos sagrados com água recolhida em potes num rio consagrado ao orixá. Essa água é levada ao templo pelos fiéis em procissão), cerimônia esta realizada fora da cidade as escondidas, devido a perseguições por parte das autoridades da época.
Com o retorno dos Voluntários da Pátria
- recrutas , em sua maioria negros e mestiços,  que foram lutar na Guerra do Paraguai - , este ritual teria sido juntado ao ato da lavagem, por gratidão a estes negros e mestiços , dando notoriedade  no espaço urbano, ao culto a Oxalá.
Existe também outra versão que nos conta que a tradição da lavagem teria assumido tais características  devido a promessa  de um soldado que lutou na Guerra do Paraguai.
A festa do Senhor do Bonfim teve seu começo no mês de janeiro. Iniciava-se no segundo domingo depois  do dia dos Santos Reis: na quinta anterior ao início da novena a lavagem do santuário era feita. Em meados do século XIX a festa assumiu características diferentes, tendo uma maior participação dos negros  que acabaram implantando os seus costumes.
O ritual que se repete durante todos esses anos, tem seu começo às 10 horas, quando os participantes se concentram em frente à igreja  da Conceição da Praia para dar início a uma caminhada de 8 km até a igreja do Nosso Senhor do Bonfim.
O cortejo é comandado por baianas em trajes típicos  que carregam vasos com água de cheiro. Atrás delas vem o bloco "Os Filhos de Ghandi" (foto 2) e uma multidão de fiéis. Todos se vestem de branco, que é a cor de Oxalá, o deus  sincretizado como Senhor do Bonfim. As  baianas  molham com água de cheiro os degraus da escadaria, onde também depositam flores, enquanto todos cantam o hino do Senhor do Bonfim.
Para  o antropólogo Câmara Cascudo,  um dos mais produtivos estudiosos da cultura brasileira, também na África havia cerimônias de lavagem de imagens ou símbolos santificados.
Após a festa, muitas pessoas se dirigem as barraquinhas espalhadas no entorno para experimentar o típico acarajé baiano (foto 5). É possível comprar as tradicionais tirinhas  do Senhor do Bonfim (foto 3), que tem exatamente o mesmo comprimento  do braço da imagem que está no interior da igreja.
Diz a lenda que ao amarrá-la no pulso, você deve fazer três pedidos ( para cada pedido, um nó), que serão realizados quando a fita cair.
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- Hino do Senhor do Bonfim -

Glória a ti neste dia de Glória
Glória a ti redentor que há cem anos
Nossos pais conduziste à vitória
Pelos mares e campos baianos.
Dessa sagrada colina
Mansão da misericórdia
Dai-nos a Graça Divina
Da Justiça e da Concórdia
Glória a ti nessa altura sagrada
És o eterno farol, és o guia
És, Senhor, sentinela avançada
És a guarda imortal da Bahia.
Dessa sagrada colina
Mansão da Misericórdia
Dai-nos a Graça Divina
Da Justiça e da Concórdia
Aos teus pés que nos deste o Direito
Aos teus pés que nos deste a Verdade
Trata e exulta num férvido preito
A alma em festa da nossa cidade.
Dessa sagrada colina
Mansão da Misericórdia
Dai-nos a Graça Divina
Da Justiça e da Concórdia.

O Hino do Senhor do Bonfim (João Antonio Wanderlei - Peiton de Vilar) foi divulgado nacionalmente a partir de sua inclusão no disco Tropicália, considerado um dos manifestos da estética do Movimento Tropicalista do final dos anos 1960.
Com arranjo e regência de Rogério Duprat, o hino é interpretado por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Os Mutantes, fechando o disco de forma apoteótica. 


terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

VEM PRO VIRA DA MANGUEIRA.

Em homenagem aos muitos leitores portugueses deste blog 
- meus queridos irmãos -  um samba  impecável da minha Estação Primeira da Mangueira que conta a história da nossa Língua Portuguesa.
Para fechar o carnaval com chave de ouro.



"...VEM NO VIRA DA MANGUEIRA, VEM SAMBAR!
MEU IDIOMA TEM O DOM DE TRANSFORMAR,
FAZ DO PALÁCIO DO SAMBA UMA CASA PORTUGUESA.
É UMA CASA PORTUGUESA, COM CERTEZA".

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

CORDÃO DA BOLA PRETA... 92 anos com corpinho de 20 .

 Aproveitando o clima de carnaval, vou contar para vocês uma história  bastante interessante. 
Quem já não ouviu falar no famoso "Bloco do Cordão da Bola Branca"?

Um dos pontos mais fortes do carnaval da Cidade do Rio de Janeiro é o 
 "Bloco do Cordão da Bola Preta". Fundado na Rua da Glória nº 88, saiu pela primeira vez em 13 de dezembro de 1918. O bloco desfila pelas ruas do centro  puxado por uma banda  com instrumentos de sopro e um vasto repertório conhecido de marchinhas de carnaval. Todos os anos são dezenas de milhares de pessoas cantando uma festa democrática sem confusão, seguindo  um trio elétrico pelas ruas da cidade. É possível ver os diversos moradores brincando juntos: pobres, ricos, brancos, negros, velhinhos e crianças num clima de total confraterização. As cores  do bloco são o preto e o branco, e o uniforme oficial é uma camisa branca com bolinhas pretas.
Como toda história de carnaval  é recheada de fatos inusitados e engraçados, a do "Cordão da Bola Preta" não poderia ser diferente.
 Bem, tudo começou no ano de 1917. Na época, um grupo formado por 18 dissidentes do tradicional Clube dos Democráticos, fundam  o bloco "Só se bebe água". Adivinha qual era o símbolo ? Um barril de chope com 18 torneiras ligadas a cada um dos componentes. A idéia do grupo era criar um novo cordão de carnaval, mas a polícia, que já estava de olho nesses caras, não permitiu o aumento da bagunça carnavalesca na cidade.
Então, o líder conhecido como Kveirinha resolveu enfrentar a polícia, botando o tal cordão na rua. 
Mas qual seria o nome ?
  Naquele último dia do ano - 31 de dezembro de 1918 -,  estavam todos reunidos numa mesa de bar se preparando para botar o bloco na rua, quando alguns  foliões ficaram de boca aberta com uma bela moça que circulava pelas ruas do centro da Cidade Maravilhosa. A bela usava um vestido colado ao corpo com bolas pretas. 
Na hora, um dos mais afoitos do grupo gritou:
- Está aí o nosso nome: "Cordão da Bola Preta".

E foi assim que surgiu o que hoje é um dos blocos mais tradicionais do Rio de Janeiro.

"O carnaval é uma marca da grande população foliã, que seguiu a rota dos salões, mas não pedeu a força da resistência popular nas ruas que é demonstrada  na imposição de uma festa que,independente da vontade social e política, se estabelece em todo país. O povo passa de liderados à líder e torna o carnaval o maior espaço democrático do mundo,  no quel reflete a oportunidade dos disfarces das máscaras e fantasias, liberando a criatividade e a irreverência. A sociedade permite, talvez ela mesma retire nestes dias de festa a sua própria máscara e revele a sua verdadeira face". ( Cláudia Maria Rocha Lima/UNICAMP )

domingo, 14 de fevereiro de 2010

A ORIGEM DO CARNAVAL NO BRASIL.

O carnaval  é considerado uma das festas populares mais animadas e representativas  do mundo. Alguns historiadores atribuem  a sua origem  na Grécia antiga, há 10 mil anos a.C., quando homens e mulheres se reuniam no verão, com os rostos mascarados e os corpos pintados, para espantar os demônios da má colheita. 
O termo carnaval é de origem incerta. Para uns o vocábulo "carnaval" advém da expressão latina carrum novalis (carro naval),  uma espécie de carro alegórico em forma de barco, com o qual os romanos inauguravam suas comemorações. Para outros, a palavra seria derivada da expressão carnem levare, modificada depois para carne, vale! (adeus, carne ou despedida da carne), anunciando  a supressão da carne devido a Quaresma. 
O carnaval desembarcou no Brasil em 1753,  com o nome de “entrudo” ( do latim introitus, -us, entrada, começo: nome com o qual a igreja católica denominava o começo das solenidades da Quaresma ), devido a  grande  influência dos portugueses da Ilha da Madeira, Açores e Cabo Verde. O “entrudo” era um conjunto de brincadeiras e folguedos que  consistia em loucas correrias e  mela-mela de farinha e água com limão. 
Tanto em Portugal como no Brasil, o carnaval não se assemelhava aos festejos da Itália Renascentista, cujas brincadeiras de rua, muitas vezes violentas, acometidas de  todo tipo de abusos e atrocidades: era comum os escravos molharem-se uns aos outros usando ovos, farinha de trigo, polvilho, cal, goma, laranja podre, restos de comida, enquanto as famílias brancas divertiam-se em suas casas derramando baldes de água suja em passantes desavisados, "num clima de quebra consentida dentro da extrema rigidez da família patriarcal".
Com o passar do tempo e devido a insistentes protestos, o entrudo civilizou-se, trocando as substâncias nitidamente grosseiras por outras menos comprometedoras, como os limões de cheiro (pequenas esferas de cera cheias de água perfumada) ou como os frascos de borracha ou bisnagas cheias de vinho, vinagre ou groselha. Estas últimas foram as precursoras dos lança-perfumes introduzidos em 1885. E assim, gradativamente o mela-mela  acabou sendo substituído pelas  tradicionais batalhas de confetes e serpentinas.
As alternativas encontradas para  modificar  a festa carnavalesca brasileira,  foram através das importações de bailes  e dos passeios mascarados parisienses, colocando o “entrudo popular”  sob forte controle policial.
No final do século XIX  aparecem os primeiros blocos carnavalescos, cordões e os famosos “corsos”. As pessoas se fantasiavam, decoravam seus carros e, em grupos, desfilavam pelas ruas da cidade. Daí a origem dos carros alegóricos típicos das escolas de samba atuais (foto 3).Mas foi no século XX que a festa torna-se cada vez mais popular, devido às marchinhas carnavalescas que deixavam a festa mais animada.
No Brasil, o carnaval é festejado tradicionalmente no sábado, domingo, segunda e terça-feira anteriores aos quarenta dias,  que vão da quarta-feira de cinzas ao domingo de Páscoa. A quarta de cinzas tem esse nome  devido à queima dos ramos no Domingo de Ramos do ano anterior, cujas cinzas são usadas para benzer os fiéis no início da Quaresma.
Atualmente no Rio de Janeiro, as escolas de samba fazem desfiles organizados, verdadeiras disputas para a eleição da melhor escola seguindo uma série de quesitos. Com o crescimento dessas agremiações, o processo de criação se especializou, gerando muitos empregos nos chamados barracões das escolas de samba. O desfile mais tradicional acontece no Rio de Janeiro, na Passarela do Samba, na Marquês de Sapucaí - como é chamado o "sambódromo carioca' - , o primeiro a ser construído no Brasil (foto 4).
Já o carnaval de rua manteve suas tradições originais na região nordeste do Brasil. Em cidades como Recife e Olinda, as pessoas saem as ruas  durante o carnaval em ritmo de frevo (foto 5) e do maracatu (foto 6)
Na cidade  de Salvador, o carnaval é comandado pelos famosos trios elétricos, embalados por músicas dançantes de cantores e grupos típicos  da região. Destacam-se também os blocos  negros como Olodum e o Ileyaê, além dos inúmeros blocos de rua e do Afoxé Filhos de Ghandi.
Para finalizar essa  prosa - estou saindo para cair na folia -, eu posso afirmar que o carnaval foi  amplamente aprovado e adotado pela população brasileira, o que tornou essa festa uma das maiores comemorações do país.

Você tem alguma dúvida disso ?

Bem, FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER.

MEU CORAÇÃO É VERDE E ROSA! 
EU SOU ESTAÇÃO PRIMEIRA DA MANGUEIRA !

Desconheço a autoria das imagens publicadas acima.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

XANGÔ.

Xangô é o dono do trovão, conhecedor dos caminhos do poder secular, governador da justiça. Teria sido u8m dos primeiros reis da cidade de Oió, que dominou por muito tempo a maioria das cidades iorubanas, merecendo Xangô, talvez por essa razão, um culto muito difundido na África.
É praticamente o grande patrono das religiões dos orixás no Brasil e seu culto está associado ao de suas esposas Oiá, Obá e Oxum, originalmente de rios africanos.


 Correspondência com os santos católicos: São Miguel Arcanjo (jovem) e São Jerônimo (velho).
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Xangô e seus homens lutavam com um inimigo implacável. os guerreiros de Xangô, capturados pelo inimigo, eram mutilados e torturados até a morte, sem piedade ou compaixão. As atrocidades já não tinham limites. O inimigo mandava entregar a Xangô seus homens aos pedaços. Xangô estava desesperado e enfurecido.
Xangô subiu no alto de uma pedreira perto do acampamento e dali consultou Orunmilá sobre o que fazer. Xangô pediu ajuda a Orunmilá.
Xangô estava irado e começou a bater nas pedras com o oxé, bater com seu machado duplo. O machado arrancava das pedras faíscas, que acendiam no ar famintas línguas de fogo, que devoravam os soldados inimigos. A guerra perdida foi se transformando em vitória.
Xangô ganhou a guerra.
Os chefes inimigos que haviam ordenado o massacre dos soldados de Xangô foram dizimados por um raio que Xangô disparou no auge da fúria. mas os soldados inimigos que sobreviveram foram poupados por xangô.
A partir daí, o senso de justiça de Xangô foi admirado e cantado por todos.
Através dos séculos, os orixás e os homens tê recorrido a Xangô para resolver todo o tipo de pendência, julgar as discordâncias e administrar justiça.

(Prandi, Reginaldo in Mitologia dos Orixás)
Desconheço a autoria da foto publicada acima.
 
Xangô, meu Pai
Kawo Kabesilye Ode,
Xangô.
Do alto da cachoeira,
As águas estavam rolando
A pedreira arrebentava
E uma coral piou
A mata estremecia
Kawo Kabesylie Ode !

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

OMULU - OBALUAÊ.

Omulu ou Obaluaê, também chamado Xapanã e Sapatá, é o senhor da peste, da varíola, da doença infecciosa,  o conhecedor de seus segredos e de  sua cura.

Correspondência com os santos católicos: São Lázaro  jovem) e Cristo das Chagas (velho).
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Quando Omulu era um menino de uns doze anos, saiu de casa e foi para o  mundo para fazer a vida.
De cidade em cidade, de vila em vila, ele ia oferecendo os seus serviços, procurando emprego.
Mas Omulu não conseguiu nada.
Ninguém lhe dava o que fazer, ninguém o empregava. Ele teve que pedir esmola, mas ao menino ninguém dava nada, nem do que comer, nem do que beber.
Tinha um cachorro que o acompanhava e só.
Omulu e seu cachorro retiraram-se no mato e foram viver com as cobras.
Omulu comia o que a mata dava: frutas, folhas, raízes.
Mas os espinhos da floresta feriram o menino. As picadas de mosquito cobriam-lhe o corpo.
Omulu ficou coberto de chagas.
Só o cachorro confortava Omulu.
Um dia, quando dormia, Omulu escutou uma voz:
"Estás pronto. Levanta e vai cuidar do povo".
Omulu viu que todas as suas feridas estavam curadas. Não tinha dores nem febre.
Obaluaê juntou as cabacinhas, os atós, onde guardava água e remédios que aprendera a usar com a floresta, agradeceu a Olorum e partiu.
Naquele tempo uma peste infestava a Terra.
Por outro lado estava morrendo gente. Todas as aldeias enterravam os seus mortos.
Os pais de Omulu foram ao babalaô e ele disse que Omulu estava vivo e que ele traria cura para a peste.
Todo lugar onde chegava, a fama precedia Omulu. Todos esperavam-no com festa, pois ele curava.
Os que antes lhe  negaram até mesmo água para beber agora implorava por sua cura.
Ele curava todos, afastava a peste. Então diziam que se protegessem, levando na mão uma folha de dracena, o peregum, e pintando a cabeça com efum, ossum e uági, os pós branco, vermelho e azul usando nos rituais e encantamentos.
Curava os doentes e com o xaxará varria a peste para fora da casa, para que a praga não pegasse outras pessoas da família.
Limpava casas e aldeias com a mágica vassoura de fibras de coqueiro, seus instrumento de cura, seu símbolo, seu cetro, o xaxará.
Quando chegou em casa, Omulu curou os pais e todos estavam felizes.
Todos cantavam e louvavam o curandeiro e todos o chamavam de Obaluaê, todos davam vivas ao Senhor da Terra, Obaluaê.
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Chegando de viagem à aldeia onde nascera, Obaluaê viu que estava acontecendo uma grande festa com a presença de todos os orixás. Obaluaê não podia entrar na festa, devido á sua medonha aparência. Então ficoue espreitando pelas frestas do terreiro.
Ogum, ao perceber a angústia do orixá,  cobriu-o com uma roupa de palha que ocultava a sua cabeça e convidou-o a entrar e aproveitar dos festejos. Apesar de envergonhado, Obaluaê entrou, mas ninguém se aproximou dele.
iansã tudo acompanhava com o rabo do olho. Ela compreendia a triste situação de Omulu e dele se compadecia. Iansã esperou que ele estivesse bem no centro do barracão. O xirê estava animado. Os orixás dançavam alegremente com suas equedes. iansã então chegou bem perto dele e soprou suas roupas de mariô, levantando as palhas que cobriam a sua pestilência.
Nesse momento de encanto e ventania, as feridas de Obaluaê pularam para o  alto, transformadas numa chuva de pipocas, que se espalharam brancas pelo barracão.
Obaluaê, o deus das doenças, transformou-se num jovem, num jovem belo e encantador.
Obaluaê e Iansã Igbalé tprnaram-se grande amigos e reinaram juntos sobre o mundo dos espíritos, partilhando o poder único de abrir e interromper as demandas dos mortos sobre os homens.

(Prandi, Reginaldo. In Mitologia dos Orixás)
Desconheço a autoria das fotos publicadas acima.

Atotô Ajuberú, Omolú ke !

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

NANÃ.

Nanã é a guardiã do saber ancestral e participa com os outros orixás do panteão da Terra, do qual uma antiga divindade, Onilé, ainda recebe em velhos candomblés  ou outra em ritos  de louvação dos antepassados  fundadores da religião.
Onilé, a Mãe Terra, é a senhora do planeta em que vivemos. nanã é a dona da lama que existe no fundo dos lagos e com a qual foi modelado o homem. É considerado o orixá mais velho do panteão na América. De sua família fazem parte Oxumarê e Omulu e, mais remotamente, Euá.

Correspondências com santos católicos: Nossa Senhora de Sant'Ana  (26 de julho).
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Dizem que quando Olorum encarregou Oxalá
de fazer o mundo e modelar o ser humano,
o orixá tentou vários caminhos.
tentou fazer o homem de ar, como ele.
Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu.
Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura.
De pedra ainda a tentativa foi pior.
Fez de fogo e o homem se consumiu.
tentou azeite, água e até vinho-de-palma, e nada.
Foi então que Nanã Burucu veio em seu socorro.
Apontou para o fundo do lago com o seu ibiri, seu cetro e arma,
e de lá retirou uma porção de lama.
Nanã deu a porção de lama a Oxalá,
o barro do fundo da lagoa onde morava ela,
a lama sob as águas, que é Nanã.

Oxalá criou o homem, o modelou no barro.
Com o sopro de Olorum ele caminhou.
Com a ajuda dos orixás povoou a Terra.
Mas tem um dia que o homem morre
e seu corpo tem que retornar à terra,
voltar à natureza de Nanã Burucu.
Nanã deu a matéria no começo
mas quer de volta no final tudo o que é seu.

(Prandi, Reginaldo. In Mitologia dos Orixás)
Desconheço a autoria da foto publicada acima.

SALUBA !

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

OSSAIM. - OSSANHA.

Ossaim é o conhecedor do poder mágico e curativo das folhas, e sem sua ciência  nenhum remédio mágico funciona.
Ossaim é cultuado em todos os templos de orixá no Brasil.

Correspondência com os santos católicos: São José, Santo Onofre.
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Ossaim era o nome de um escravo que foi vendido a Orunmilá.  Um dia ele foi à floresta e lá conheceu Aroni, que sabia tudo sobre as plantas. Aroni, o gnomo de uma perna só, ficou amigo de Ossaim e ensinou-lhe todo o segredo das ervas.
Um dia, Orunmilá, desejoso de fazer uma grande plantação, ordenou a Ossaim que roçasse o mato de suas terras. Diante de uma planta que curava hemorragias, dizia:
"Esta não pode ser cortada, é a erva que cura as dores".
Diante de uma planta que curava hemorragias, dizia:
"Esta estanca o sangue, não deve ser cortada."
Em frente de uma planta que curava febre, dizia:
"Esta também não, porque refresca o corpo".
E assim por diante.
Orunmilá que era um babalaô muito procurado por doentes, interessou-se então pelo poder curativo das plantas e ordenou que Ossaim ficasse junto dele nos momentos de uma consulta.
E assim Ossaim ajudava Orunmilá a receitar e acabou sendo conhecido como o grande médico que é.
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Ossaim é filho de Nanã e irmão de Oxumarê, Euá e Obaluaê, era o senhor das folhas, da ciência, das ervas, o orixá que conhece o segredo da cura e o mistério da vida. Todos os orixás recorriam a Ossaim para curar qualquer moléstia, qualquer mal do corpo. Todos dependiam de Ossaim na luta contra a doença. Todos iam à casa de Ossaim oferecer sacrifícios. Em troca Ossaim lhes dava preparados mágicos: banhos, chás, infusões, pomadas, abô, beberagens. Curava as dores, as feridas, os sangramentos; as disenterias, os inchaços e fraturas; curava as pestes, febres, órgãos corrompidos; limpava a pele purulenta e o sangue pisado; livrava o corpo de todos os males.
Um dia Xangô, que era o deus da justiça, julgou que todos os orixás deveriam compartilhar o poder de Ossaim, conhecendo o segredo das ervas e o dom da cura. Xangô sentenciou que Ossaim dividisse suas folhas com os outros orixás.
Xangô sentenciou que Iansã soltasse o vento e trouxesse ao seu palácio todas as folhas das matas de Ossaim para que fossem distribuídas aos orixás. Iansã fez aquilo que Xangô determinara. Gerou um furacão que derrubou as folhas das plantas e as arrastou pelo ar  em direção ao palácio de Xangô.
Ossaim percebeu o que estava acontecendo e gritou:
"Euê uassá!".
"As folhas funcionam!".
Ossaim ordenou às folhas que voltassem às suas matas e as folhas obedeceram às ordens de Ossaim. Quase todas as folhas retornaram a Ossaim. As que estavam em poder de xangô perderam o axé, perderam o poder de cura.
O orixá-rei, que era um orixá justo,  admitiu a vitória de Ossaim.Entendeu que o poder das folhas devia ser exclusivo de Ossaim e que assim devia  permanecer através dos séculos.
Ossaim, contudo, deu uma folha para cada orixá, deu uma euê para cada um deles.
cada folha com seus axés e seus afós, que são as cantigas de encantamento, sem as quais as folhas não funcionam. Ossaim  distribuiu as folhas aos orixás para que eles não mais o invejassem.
Eles também podiam realizar proezas com as ervas, mas os segredos mais profundos ele guardou para si.
Ossaim não conta seus segredos para ninguém, Ossaim nem mesmo fala.
Fala por ele seu criado Aroni.
Os orixás ficaram gratos a Ossaim e sempre o reverenciam quando usam as folhas.

(Prandi, Reginaldo. In Mitologia dos Orixás).
Desconheço a autoria das imagens publicadas acima.

Ewé ó! Kó si ewé, kó sí Òrìsà!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

ORUNMILÁ - IFÁ.

Orunmilá ou Ifá é o conhecedor do destino dos homens, o que detém o saber do oráculo, o que ensina como resolver toda sorte  de problemas e aflição.
Os sacerdotes de Orunmilá na África, os babalaôs, sábios que usam seus mistérios para resolver problemas e curar pessoas, disputam com os sacerdotes de Ossaim a cura de todos os males que destrem a saúde.
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Naquele tempo não havia separação
entre o Céu e a Terra.
Foi quando Orunmilá teve oito filhos.
O primeiro foi o rei de Ará, Alará.
O segundo foi Ajeró, rei de Ijeró.
O filho caçula foi Olouó, rei da cidade de Ouó.
Havia paz e fartura na Terra.
Numa importante ocasião,
quando Orunmilá celebrava um ritual,
mandou chamar todos os seus filhos.
Vieram os sete primeiros filhos de Orunmilá.
Eles lhe prestaram homenagens,
ofereceram-lhe sacrifícios,
prostaram-se a seus pés batendo palmas,
prostraram-se batendo paó,
disseram as palavras de respeito.
Menos Olouó
Ele veio mas não deitou aos pés do pai,
não fexz oferendas,
não o homenageou com devia.
"Por que  não demonstra respeito por teu pai?",
perguntou Orunmilá.
Olouó respondeu que
seu pai tinha sandálias de precioso material,
mas ele também as tinha;
seu pai usava roupas dos mais finos tecidos,
mas ele também as usava;
seu pai tinha cetro e tinha coroa,
e que ele os tinha também.
Que um homem que usa uma coroa
não deve se prostar diante do outro,
foi o que disse o filho ao pai.
Orunmilá se enfureceu,
arrancou o cetro das mãos do filho
e o atirou longe.
Orunmilá retirou-se para o Orum, o Céu,
e a desgraça se abateu sobre o Aiê, a Terra.:
fome, caos, peste, confusão.
parou de chover, as plantas não cresciam
e animaos não procriavam,
todos estavam em desespero.
Os homens ofereceram a Orunmilá
toda sorte de sacrifícios, todos os cantos.
Orunmilá aceitou as oferendas,
mas a paz entre o Céu e a Terra
estava definitivamente rompida.
Os filhos de Orunmilá o procuraram no Orum
e lhe pediram para retornar ao Aiê.
Orunmilá entregou então a seus filhos
dezesseis nozes de dend~e e disse:
"Quando tiveres problemas
e desejarem falar comigo, consultem este Ifá".
Orunmilá nunca mais veio ao Aiê,
mas deixou o oráculo para que as pessoas
possam recorrer a ele quando precisarem.
Os filhos de Orunmilá eram assim chamados:
Ocanrã, Eijiocô, Ogundá, Ejila-Xeborá,
Icá, Oturopon, Ofucanrã e Iretê.
São sete os nomes dos odus.
São estes os filhos de Orunmilá.
Cada odu conhece um segredo diferente.
Um fala do nascimento, outro da morte,
um fala dos negócios, outro da fartura,
um fala das guerras, outro das perdas,
um fala da amizade, outro da traição,
um fala da família, outro da amizade,
um fala do destino, outro da sorte.
Cada odu conhece um segredo diferente.
Desde então, quando alguém tem um problema,
é o odu que indica o sacrifício apropriado.
Orunmilá disse:
"Quando tiverem problemas, consultem o Ifá".
Orunmilá numca mais veio ao Aiê,
mas deixou o oráculo para que as pessoas
possam recorrer a ele quando precisarem.

(Prandi, Reginaldo in Mitologia dos Orixás)
Desconheço a autoria das fotos publicadas acima.

 Exeu, Epá Oju Olorum!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

OXUM.


Oxum preside o amor e a fertilidade, é a dona do ouro e da vaidade e senhora das águas doces.

Correspondência com os santos católicos: Nossa Senhora da Conceição,  Nossa Senhora da Aparecida.

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Um dia, Orunmilá saiu de seu palácio
 para dar um passeio acompanhado de todo o seu séquito.
Em certo ponto deparou com outro cortejo, 
do qual a figura principal era uma mulher muito bonita.
Orunmilá ficou impressionado com tanta beleza
e mandou Exu, seu mensageiro, averiguar quem era ela.
Exu apresentou-se ante a mulher com todas as reverências
e falou que seu senhor, Orunmilá, gostaria de saber seu nome.
Ela disse que era Iemanjá, rainha das águas e esposa de Oxalá.
Exu voltou à presença de Orunmilá
e relatou tudo o que soubera da identidade da mulher.
Orunmilá, então, mandou convidá-la a seu palácio,
dizendo que desejava conhecê-la.
Iemanjá não atendeu de imediato o convite,
mas um dia foi visitar Orunmilá.
Ninguém sabe ao certo o que se passou no palácio,
mas o fato é que Iemanjá ficou grávida após a visita a Orunmilá.
Iemanjá deu a luz a uma linda menina.
Como Iemanjá já tivera  muitos filhos com seu marido,
Orunmilá enviou Exu para comprovar se a criança
era mesmo filha dele. Ele devia procurar sinais no corpo.
Se a menina apresentasse alguma marca,
mancha ou caroço na cabeça seria filha de Orunmilá
e deveria ser levada para viver com ele.
Assim foi atestado, pelas marcas de nascença,

que a criança mais nova de Iemanjá era de Orunmilá.
Foi criada pelo pai, que satisfazia todos os seus caprichos.
Por isso cresceu cheia de vontades e vaidades.
O nome dessa filha é Oxum.

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Oxalá tinha três mulheres.
A esposa principal era uma filha de Oxum, e como tal era a encarregada de zelar pelos alvos paramentos
e pelas ferramentas que usava Oxalá nas grandes celebrações.
As outras mulheres invejavam a posição da filha de Oxum
e muitas vezes criaram situações embaraçosas para prejudicá-la.
Um dia, a filha de Oxum limpava as ferramentas de Oxalá
e as deixou no sol para secar enquanto cuidava de outras coisas.
Vieram as duas outras mulheres e jogaram os objetos do orixá no mar.
A filha de Oxum não encontrou as ferramentas do Grande Orixá
e julgou, desesperada, que por conta disso pagaria caro demais.
Nem da cama levantou-se no dia da festa, tal o seu estado d'alma.
sabia que na festa Oxalá haveria de querer usar os seus símbolos.
Uma meninazinha que ela criava lhe pediu para que se levantasse,
mas ela se recusou a fazê-lo, tão grande o desânimo que a possuía.
Foi quando passou na rua um pescador vendendo peixes
e a mulher mandou  a meninazinha  comprar alguns para a festa.
Ao abrir os peixes, encontrou as ferramentas dentro deles.

As outras duas não desistiram de prejudicar a rival esposa.
No dia da festa, no ponto privilegiado da sala,
ocupava seu trono Oxalá.
Sentada numa cadeira, à sua direita, encontrava-se a esposa principal,
enquanto as outras duas  acomodavam-se em cadeiras do lado esquerdo.
Aproveitanso-se de um momento
em que a primeira esposa se ausentou,
as duas outras puseram em sua cadeira um preparado mágico.
No momento em que ela voltou à sala e se sentou,
sentiu o assento pegajoso, quente, estranho.
Ela sangrava, deu-se conta com horror!
Saiu correndo em desespero,
sabendo que infringia um tabu do seu marido.
Oxalá indignou-se 
por ela ter se apresentado diante dele em estado de impureza.

A triste esposa correu para a casa de sua mãe em busca de socorro.
Oxum a recebeu carinhosamente e cuidou dela.
Triturou folhas e preparou-lhe um banho de bacia.
Banhou o seu corpo, lavou o sangue, envolveu-a em panos limpos
e a deixou repousando numa esteira sob a sombra de uma árvore.
Quando Oxum tirou a filha do banho, o fundo da água era vermelho
e não era sangue, eram penas vermelhas do papagaio-da-costa.
No findo da bacia penas vermelhas estavam depositadas,
penas da cauda do papagaio-da-costa, que os iorubás chamam edidé.
Penas raríssimas e muito apreciadas que os iorubás chamam ecodidé.
Penas que o próprio Oxalá considerava
um riquíssimo objeto de adorno,
das quais os caçadores não conseguiam
arranjar-lhe sequer um exemplar.

A filha de Oxum passou a ir às festas enfeitada com as tais penas
e um rumor de que Oxum tinha muitos ecodidés
chegou ao s ouvidos de Oxalá.
Como ele não conseguia as penas de papagaio
pelas mãos dos caçadores,
foi um dia à casa de Oxum perguntar por elas e surpreendeu-se.
Lá estava a sua mulher, a filha de Oxum,
coberta com as preciosas plumas.
Oxalá acabou perdoando a esposa e a levou de volta para a casa.
Com a filha reabilitada e Oxalá satisfeito,
Oxum completara seu prodígio.
Oxalá ornou com uma das penas vermelhas sua própria testa
e determinou que a partir daquele dia
as sacerdotisas dos orixás, as iaôs, quando iniciadas,
deveriam também usar o ecodidé
enfeitando suas cabeças raspadas e pintadas,
pois assim seriam mais facilmente reconhecidas pelos orixás
que tomam seus corpos em possessão para dançar nas festas.

( Prandi, Reginaldo in Mitologia dos Orixás).
Desconheço a autoria das fotos publicadas acima.

Ora-Iê Iê-Oxumminha mãe !