sábado, 8 de janeiro de 2011

O HOMEM QUE ENGANOU A MORTE.


Diz que era uma vez um homem que tinha tantos filhos que não achava mais quem fosse  seu compadre. É difícil encontrar quem queira ser compadre de um pobre.
E nascendo mais um filhinho, saiu para procurar quem o apadrinhasse e, depois de muito andar, cansado, encontrou a Morte pelo caminho, a quem convidou.
A Morte aceitou de pronto, pois nunca havia recebido um convite desses, as pessoas sempre fugiam dela.
Quando acabou o batizado voltaram para casa e a madrinha compadecida da sorte de seu compadre, fez-lhe um convite:
- Compadre ! Quero fazer um presente ao meu afilhado e penso que é melhor enriquecer o pai. A partir de hoje, você será um médico e nunca errará o diagnóstico!
E continuando:
- Quando  for visitar um doente me verá sempre. Se eu estiver na cabeceira do enfermo, receite até água pura e ele ficará bom. Agora, se eu estiver nos pés, não faça nada porque é um caso perdido.
O homem confiante nas palavras da Morte, assim o fez. Colocou uma placa de médico na porta de sua casa e ficou esperando a primeira visita.
A coisa era tão certeira que o homem foi enricando, pois não errava um diagnóstico. A sua fama já estava chegando às cidades vizinhas.
Era só entrar no quarto do vizinho para dizer:
- Esse escapa !
Ou então:
- Não tem jeito. Podem encomendar o caixão, vai bater as botas !

Não errava uma.
Vai que um dia adoeceu o filho do rei e este mandou buscar o tal médico, oferecendo imensa riqueza pela vida do príncipe. O homem ao entrar no quarto, deparou-se com a Morte sentada nos pés da cama. Como não queria perder a fama e nem a grana oferecida pelo rei, resolveu tapear a comadre, ficando lá o dia inteiro sem pronunciar qualquer diagnóstico.
A Morte, que trabalhara a noite toda, de tão cansada que estava, acabou cochilando sentada na cadeira.
Foi quando o médico, mais que depressa, num golpe certeiro, mandou que os serviçais o ajudassem virar a cama, de modo a colocar a morte na cabeceira da cama do doente.
 E num grito só ele disse:
- Vai se salvar !
A Morte tomou um susto com aquele grito e, muito contrariada por ter sido tapeada, foi-se embora resmungando...
-Você me paga, compadre.
No dia seguinte cedinho, o médico tomava o seu café da manhã quando foi surpreendido por uma batida na porta. Era a Morte convidando o compadre a fazer-lhe uma visitinha.
- Eu vou - disse o médico - se você jurar que voltarei!
- Prometo - disse a comadre.
Então levou o homem como num relâmpago até a sua casa.
Tratou-o muito bem e mostrou toda a casa.  Mas o médico ficou meio encafifado com um salão cheio, mais cheio de velas acesas, de todos os tamanhos, algumas já apagando, outras vivas, outras esmorecendo. Não contendo a curiosidade, perguntou o que era aquilo.
- É a vida do homem- respondeu a Morte. cada criatura do universo tem uma vela acesa. Quando a vela se acaba, ele bate as botas.
O tal homem foi perguntando pela vida dos amigos, dos vizinhos, conhecidos e vendo quanto tempos lhes restava. Até que a curiosidade o fez perguntar pela sua vida. A comadre, então, mostrou um cotoquinho de vela quase no fim.
- Virgem Maria ! Essa é a minha ? Então eu estou morrendo ?
A Morte disse:
- Está com as horas contadas e foi por isso que lhe trouxe aqui, mas você me fez jurar que voltaria e vou cumprir a minha promessa e levá-lo de volta para que possa morrer em casa.
O médico quando deu acordo de si, já estava em casa deitado na cama meio moribundo e rodeado pela família.
Como último desejo pediu a comadre para que rezasse um Padre-Nosso.
- Não me leves antes, jure ?
- Juro - prometeu a Morte.
O homem começou a rezar...
- Padre-Nosso que estás no céu... E calou-se.
A Morte então disse:
- Anda compadre, eu tenho muito  que fazer, meu dia está tomado, você está demorando muito.
- Nem pense nisso, comadre! Pensa que vai me levar assim, a minha reza vai durar anos.
E pulou da cama todo serelepe.
A Morte ficou indignada por ter sido enganada duas vezes pelo compadre,  e disse:
- Tudo bem, mas eu te pego na esquina.
Anos e anos se passaram, o médico velhinho e engelhado, vinha de uma visita quando deparou com um homem morto na beirada da estrada.
- Deve ser triste morrer assim, sozinho, sem ninguém - lamentou o médico.
Tirou o chapéu de pôs-se a rezar um Padre-Nosso para o coitado. Quando pronuncoiu a palavra Amém, o morto abriu os olhos. Era a comadre morte fazendo-se de morta.
- Pensou que iria enganar-me durante o resto da vida ? Hoje você não me escapa !


16 comentários:

Daniel Savio disse...

Hua, kkk, ha, ha, quem disse que não se esforça para alcançar acaba não conseguindo o objetivo...

Fique com Deus, menina Silvana Nunes.
Um abraço.

angela disse...

Ótima historia
Muito bem contada, amiga.
Adorei.
beijos

Anabela disse...

que historia!ate fiquei arrepiada!bjs

Unknown disse...

Obrigadão pela sua visita ao XERETANDO NA COZINHA e pelo carinhoso comentário.
É interessante como muitas dessas lendas são tão acreditadas, com tantas crendices fazem parte da nossa vida... pena que quando falamos a respeito da unica VERDADE, ai, poxa, as pessoas na maioria das vezes relutam em acreditar...
Beijos, voltarei outras vezes pois estou seguindo teu blog de poesias, bem como esse.
Boa semana de coração para voce.

Anônimo disse...

Minha mãe sempre fala que ninguém engana a morte, e não é que é verdade!
Bjs querida.

Carlos Albuquerque disse...

De novo aqui.
Sobre este post comentarei mais tarde. A minha vinda tem a ver com comentários seus que acabei de ler no blog Em Prosa e Verso da Dulce - os problemas que afectam vc e seu marido.
Força, amiga, vc há-de vencer!
Um beijo e um abraço deste lado do mar

Sylvia disse...

OI, Silvana, retribuindo a visita, e estou aproveitando para dizer que eu amei seus dois espaços!

Preciso de calma para ler tudo o que tem aqui... vou te seguir, e virei com tempo para me deleitar com seus "causos"

Bjs

Madeira de Cetim disse...

Vôte!Como boa nordestina,
acho essa tal de dona morte uma boa cabotina. Dou todo crédito a quem engana danada, mesmo que o cabra se esconda em baixo da cama, atrás da cortina... Tudo menos bater a caculeta!Ela que estribuche, pois na hora H vou é virar brabuleta!

Outra hora volto, visse? Prá ouvir outro causo e deixar meu aplauso.

Passe lá em casa, se num tiver café, tem letra. ;-)

Bete- Sita.

Mr.Jones disse...

eu tb ja enganei a morte sabia?
Sério mesmo. Ja sofri 6 acidentes (4 de motos e 2 de carro) e to aqui contando pra voce.

abraços

R. R. Barcellos disse...

- Tô te seguindo como a Morte... te cuida, moça.
- Você tem talento. Já dei um passeio pelo espaço e gostei.
- Abraços.

R. R. Barcellos disse...

- Complementando: Entre os contos de Malba Tahan (que muita gente não sabe que é brasileiro) há muitos que merecem sua atenção, eu acho. Mais abraços e felicitações.

Mari Amorim disse...

Desejo que seus dias,sejam iluminados pela essência Divina,com Boas Energias Sempre!
Abraços
Mari

Socorro Melo disse...

Olá, Silvana!

Venho, um pouco atrasada, mas, ainda em tempo, desejar-lhe um ano novo feliz, de muita saúde e paz, e grande inspiração.

Essa lenda é uma delícia, kkkk
Me pergunto: será que alguém, algum dia, já tapeou a morte???

Beijos :)
Socorro Melo

Anônimo disse...

...Estou passando, para trazer uma pequena reflexão, e desejar-te uma maravilhosa semana...

"Não interrompa uma pessoa que lhe conta algo que você já sabe. Uma história nunca é contada duas vezes da mesma maneira e é sempre bom ter mais uma versão.""
[Golbery do Couto e Silva]


Paz e bem:

Leandro Ruiz

josé roberto balestra disse...

Linda fábula, Sil.
De fato a tal da foiçona não há quem a trapaceie.

abs

ma100%gata disse...

Nossa esta história não tem nada ver com a Original!