domingo, 8 de julho de 2007

Uma breve reflexão sobre o ato de ler.

Lembro-me de minha avó materna, uma analfabeta que lavou roupas para sobreviver e criar doze filhos; que ao deitar, contava-me a história dos espíritos esquecidos presos numa velha sacola de couro planejando uma vingança mortal àquele que, por egoísmo, manteve-os presos por tanto tempo. Com medo dessa tal vingança, passei a vida repassando as histórias que ouvia: primeiro para meus colegas de classe; mais tarde para meus filhos e hoje continuo recontando para alunos, vizinhos e quem de mim se aproximar.
Até bem pouco tempo, numa crise existencial, não conseguia compreender a minha função aqui neste plano, até que num belo dia, sentada numa cadeira, um ‘Estalo de Vieira’ iluminou a minha mente e me apercebi contadora de histórias. Hoje, prestes a me tornar uma professora de Português e Literaturas , fico triste só de pensar que aquilo que foi um alimento para mim durante os anos em que crescia, não é praxe em muitos lares no mundo contemporâneo.
Tornei-me uma devoradora de livros, passaria o dia citando autores, livros e artigos de minha preferência, porque desde pequena fui enredada pelas tramas das histórias, cantigas de roda e cordéis, por esse mundo sem fronteiras onde eu também pudesse fazer uma blusa amarela com três metros de entardecer e, sobretudo, com a possibilidade de um dia vir a resgatar uma parte desse material oral que ainda circula, principalmente lá pelo norte e nordeste, onde o mito sebástico que tanto me encanta foi muito presente por ocasião da colonização.
O mundo contemporâneo trouxe lá seus benefícios, mas deixou as pessoas muito embrutecidas e essa ausência de sensibilidade embota os sentidos. A educação pela arte mexe com essa oportunidade de vir a exercer esse domínio máximo das faculdades intelectuais. Precisamos depurar os nossos sentidos – isso é urgente se queremos um mundo mais justo e com menos violência. E essa depuração vem através desse objeto lírico tão maravilhoso que é a história. Como educadora e sonhadora sinto-me na contramão do mundo porque quero resgatar esse algo que existe dentro de nós, que é essa humanidade que ficou perdida em meio a essa aldeia global, essa sociedade insensível e fragmentada; essa mesma sociedade que nos tirou a possibilidade de criar, pois com toda facilidade, ficamos frente a tudo pronto, sem poder agir. Isso nos deixa um enorme vazio, não cria um significado entre nós e o objeto.
Gostaria de poder contar com a colaboração em divulgar meu trabalho afim de que possa adentrar esse mundo de fazedores de histórias, sobretudo para meus estudos de pesquisa desse imaginário tão fascinante e importante para essa e gerações futuras, pois relembrando a nossa poetisa Cecília Meireles, literatura é nutrição, é algo muito mais profundo do que um simples entretenimento, pois o alimento faz parte da nossa história biológica e o alimento quando é de qualidade vai dando ao aluno uma visão de mundo diferenciada para toda vida.

Um comentário:

NUMEROLOGIA E PROSPERIDADE disse...

Amiga esse depoimento me tocou imensamente. Tenho lindas histórias guardadas na memória contadas por minha avó quem sabe um dia as conto e, sensível como és, transforme-as em contos.
Desejo de coração que encontre um pouco mais de tranqüilidade em seu novo lar, pois é isso que o ser humano almeja.
Faça sua parte que Ele te ajudará, tenho plena certeza disso.
Beijos e seja feliz hoje e sempre!!!


obs nao consegui de jeito nenhum postar meu depoimento ai resolvi mandar por e-mail se conseguir por favor faça para mim. bjsss Marisa Carmo