sábado, 29 de agosto de 2009

BRINCADEIRAS-DE-RODA.

Pode parecer curioso para alguns falar em cantigas-de-roda nos dias de hoje em tempos em que estas manifestações da cultura popular espontânea estão com o seu espaço tão diminuído. Nas ruas, nas praças, nos quintais está mais raro de se ver ou ouvir-se das bocas infantis aquelas canções que, na simplicidade das suas melodias ritmos e palavras, guardam séculos de sabedoria e a riqueza condensada do imaginário popular .
Porém, mesmo sem estarem em alta, também não estão extintas. E configurando uma situação contrastante e quase contraditória, elas sobrevivem à era do computador. Talvez como um reflexo da busca do contato com a expressão genuína e ancestral que é, em última instância, insubstituível.
O fato é que toda esta conjuntura não altera em nada
o teor valoroso intrínseco as cantigas e brincadeiras-de-roda. Elas continuam contendo símbolos fecundadores de toda a vida subjetiva, e continuam funcionando como pretextos maravilhosos para a criança experimentar o seu corpo, a linguagem, e para descobrir-se a si própria ao mesmo tempo se revelando ao outro e inserindo-se no convívio social.
Segundo Câmara Cascudo (1988), as rodas infantis que se apresentam no Brasil têm origem portuguesa, francesa e espanhola. Porém com a força do cantar e ouvir, abrasileiraram-se muitos destes cantos, sendo eles hoje tão nossos como se aqui nascidos.
Observando um grupo de crianças brincando espontaneamente com estas canções, ou, mergulhando no tempo e nos recordando das brincadeiras-de-roda vivenciadas na própria infância, percebo que algo precioso se proce
ssa. Trata-se de um movimento de entrega, de alegria e de intensidade vital.
Do ponto de vista pedagógico, estes jogos infantis são considerados completos: brincando de roda a criança exercita naturalmente o seu corpo, desenvolve o raciocínio e a memória, estimula o gosto pelo canto. Poesia, música e dança unem-se em uma síntese de elementos imprescindíveis a educação global.
Assim, ocorre que, cantando e dançando no grupo de brincadeiras, a criança traz elementos do passado da humanidade para o seu presente, a partir da vivência deste passado relacionado aos conteúdos do seu presente, encontra-se em
condições de projetar o seu futuro.

São exemplo de algumas:

"Cai, cai balão
Aqui na minha
mão.
Não vou lá!
Não vou lá !
Não vou lá!
Tenho medo de apanhar."

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"Bam-ba-la-lão
Senhor capitão
Espada na cinta
Sinete na mão."
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"Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar..."
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"Como pode peixe vivo
Viver fora d'àgua fria?

Como poderei viver

Sem a tua companhia?
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"...O anel que tu me deste
era vidro e se quebrou.
o amor que tu me tinhas
era pouco e se acabou..."
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"Nesta rua, nessa rua
Tem um bosque
Que se chama
Que se chama solidão.

Dentro dele

Dentro dele mora um anjo
Que roubou
Que roubou meu coração..."
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"A carrocinha pegou
Três cachorros de uma vez
Tra lá lá
Que gente é essa?
Tra lá lá
Que gente má!"
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"Samba Lelê está doente
Está com a cabeça quebrada
Samba Lelê precisava

De umas dezoito lambadas

Samba, samba, samba o Lelê
Pisa na barra da saia, o Lelê!

Ô morena bonita,
Como é que se namora
Põe o lencinho no bolso,
Deixa a pontinha de fora"
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"Pai Francisco entrou na roda
Tocando seu violão
Dararão, dão, dão !
Vem de lá seu delegado,
E pai Francisco
Vai para a prisão.

Como ele vem
Todo requebrado

Parece um boneco
Desengonçado!"
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"Ai eu entrei na roda
Ai eu não sei como se dança
Ai eu entrei na roda dança
Ai eu não sei dançar

Sete e sete são quatorze
Três vez sete é vinte-e-um
Tenho sete namorados

Só posso casar com um"
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"A linda Rosa juvenil, juvenil, juvenil,
A linda rosa juvenil, juvenil

Vivia alegre no seu lar, no seu lar, no seu lar
Vivia alegre no seu lar, no seu lar.


Mas uma feiticeira má, muito má, muito má
mas uma feiticeira muito má, muito má

Adormeceu a Rosa assim, bem assim, bem assim...
Adormeceu a Rosa assim, bem assim...

Não há de acordar jamais, nunca mais, nunca mais
Não há de acordar jamais, nunca mais.

O tempo passou a correr, a correr, a correr,
o tempo passou a correr, a correr

E o mato cresceu ao redor, ao redor, ao redor
E o mato cresceu ao redor, ao redor

Um dia veio um belo rei, belo rei, belo rei

Um dia veio um belo rei, belo rei

Que despertou a rosa assim, bem assim, bem assim
Que despertou a Rosa assim, bem assim."
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"A canoa virou
Por deixar ela virar.
Foi por causa da Fulana
Que não soube remar

Ai se eu fosse um peixinho
E soubesse nadar

Tiraria a Fulana
Lá do fundo do mar ".

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"...o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou..."
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"Terezinha de Jesus, de uma queda foi-se ao chão
acudiram três cavaleiros, todos três chapéu na mão
o primeiro foi seu pai..."

Saudações Florestais !



2 comentários:

henriette disse...

muito interessante teu texto, é sempre bom a gente saber detalhes de outras culturas... sabia? minha bisavó era índia, chamava-se mariana beijão

Tais Luso de Carvalho disse...

Que lindo ver isso escrito! Lembro muito bem dessas brincadeiras de roda...

Grande abraço, aqui tudo é deliciosamente nativo!

tais luso