Nascido no bairro de Cascadura ( foi meu vizinho), cresceu apreciando a leitura de histórias em quadrinhos.
Já adulto, foi exilado por suas idéias políticas contrárias à ditadura militar então em vigor no país. Morou algum tempo na Bolívia, sendo detido quando de seu retorno ao Brasil (1973).
Doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde lecionou Literatura, como escritor tem extensa obra publicada: livros infantis, didáticos, paradidáticos e outros. Trabalhou como colaborador nas minisséries Abolição, de Walter Avancini, transmitida pela TV Globo (22 a 25 de novembro de 1988) e República (de 14 a 17 de novembro de 1989).
Num engenho de açúcar viviam dois meninos: um era filho do dono e se chamava Ricardo. O outro era escravo e tinham esquecido seu nome, só o chamavam de moleque. Moleque pra lá, moleque pra cá.
O moleque fora comprado bem novinho no mercado. Seu trabalho ia ser brincar com o filho do dono, brincar de todo jeito: jogar dama, soltar pipa, rodar arco que era uma brincadeira muito apreciada naquele tempo e de cavalinho – Ricardo montava e o moleque era montado. Saíam os dois pelo terreiro:
- Upa, upa cavalinho, gritava Ricardo.
O dono do engenho olhava aquilo e esfregava as mãos:
- Esse moleque foi a melhor compra que já fiz, mulher. Olha nosso filho como está feliz!
Vai que num domingo de manhã, estando de folga, o moleque entrou no mato para pegar passarinho. Ele pegava um pedaço de pau e passava visgo para o coitado pousar e ficar preso. Naquele domingo porém, o sol já estava no alto e nada...
- Vou lhe ajudar, disse uma voz rouca.
Tinham explicado ao moleque que se ouvisse uma voz rouca longe de casa, tomasse cuidado. Podia ser a onça Gomes ou Quibungo, ou Ipupiara ou o João do Mato.Essas criaturas horrendas tinham lá suas razões para não gostarem de gente.
- Quem é você? – perguntou o moleque. Mostre sua cara.
Quem apareceu foi Ossanha. Usava um cocar e um saiote de penas, mais não era índio. Sua pele era negra, quase azul. Não tinha uma perna e não tinha um olho, perdidos numa briga com Xangô.
No começo de tudo, o criador que se chama Olorum, tinha dado a cada filho uma parte do mundo. Para Ossanha deu a floresta:
- Você cuida das plantas. Umas servem para comer, outras para fazer remédio e outras para enfeitar a casa. Quando alguém precisar, atenda.
O que fez Ossanha? Guardou as plantas só para si.
- Está em falta, mentia quando alguém procurava.
Seu irmão Xangô quando soube, chamou Iansã que cuidava dos ventos:
- Onde já se viu? Dê um castigo para esse egoísmo.
Iansã se aproximou como quem não quer nada, Ossanha se distraiu e ela abanou com a saia o horto particular do orixá egoísta. Foi a maior ventania! Quando acabou, as plantas tinham se espalhado pelo mundo. É por isso que Ossanha está em todo lugar que tem mato, recolhendo as plantas que Iansã espalhou.
O moleque que conhecia a história não teve medo:
- Como é que o senhor/senhora vai me ajudar?
Senhor/senhora porque Ossanha é as duas coisas.
- Tome esse visgo, é da nossa terra. Com ele você vai pegar o pássaro Cora , já viu um?
- Não.
E foi o que aconteceu. O pássaro Cora era um espanto! Vinha gente de longe apreciar o seu canto – criadores de pássaros, viajantes, naturalistas, gente de outros países, do governo, da igreja...
O pássaro do moleque aprendia o que se ensinava. Bastava assobiar uma vez perto da gaiola e ele imitava. Começaram a botar preço na maravilha. O moleque recusava. Se aceitasse, teria dinheiro para jogar na cara de seu dono e dizer:
- Olha aqui, compro a minha liberdade e pode ficar com o troco.
Mas o moleque dizia não. Não vendo, nem troco por dinheiro do mundo. O senhor partiu para a ameaça:
- Se não me vender esse passarinho, te arranco a pele.
O moleque sorria com o canto dos lábios.
- Se não me vender essa porcaria, te aplico os anjinhos.
Anjinhos eram uns anéizinhos de ferro para apertar os dedos e doía como o diabo!
- Se é uma porcaria, por que o nhô quer comprar? Era só o que ele dizia.
Quando o menino estava de castigo, o Cora não cantava.
Até que um dia, o senhor perdeu a paciência. Resolveu vender o moleque para outro senhor.
- Vai ser bem longe daqui que não quero ver a tua cara na minha frente e nunca mais ouvir a voz desse passarinho.
Ricardo, o filho do dono, ficou triste, ficou doente e pediu:
- Não vende, pai. Há tempos que o escravo sou eu. Eu é que dependo dele pra tudo, não sei mais brincar sozinho.
O pai não escutou, vendeu o moleque. O comprador veio buscá-lo a meia-noite. Ricardo estava tão triste que não teve coragem de se despedir do moleque.
- Ele vai alegre – pensou – porque tem o Cora. Eu fico triste porque não tenho nada.
No outro dia de manhã, quando se levantou e abriu a janela, o menino Ricardo teve uma surpresa: do lado de fora tinha uma gaiola pendurada.
Assim que viu o menino, o Cora começou a cantar.
29 comentários:
Ola!
Vim retribuir a visita.
Ja estou te seguindo rsrs
ate mais
tenha um otimo dia*
que bonito!Adoro a humildade nas pessoas,não vendeu o passaro por nada,ainda ficou sem o menino para brincar e mudou de dono,e sendo tão bom menino ainda lhe deixou o passaro para ele ter companhia,nao se v~e ninguem assim hoje em dia,venderiam o passaro e não alhariam para tras...,bjs
Que belo conto este!
As palavras de Rufino dos Santos brilham a cada linha, levando-nos à grandeza da alma nobre do moleque!
Bem haja, Silvana, por nos dar a conhecer histórias como esta.
Um abraço.
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Não tenho vindo mais vezes porque o seu blog demora a abrir e, quase sempre, bloqueia. Hoje consegui!
Silvana,maravilhoso esse conto!Uma grande lição!Bjs,
De novo!
Hoje a net está mais amiga e abre o blog.
Quero fazer-lhe um pedido: posso levar a imagem da índia amamentando um animal para o meu blog?
Se autorizar diga como se chama o bichinho.
Saudações
Linda esta lenda!
Uma bela homenagem para o dia de hoje.
Bjs
Ótima sexta.
Mandei o codigo do (Linke-me)pro hotmail que esta no seu perfil.
(pra adicionar, é só proceder como os outros: Layout, adicionar gadget, escolhe na cx de opções, escolhe "javascript" e insere o código)
Se quiser mudar ele de lugar, é só arrastar em Layout.
Se vc ja souber, desculpe, to passando tudo...
O "Linke-me" sempre fica bem acima para que o pessoal possa pegar o codigo e divulgar seu blog.
Ótima sexta pra vc.
Lindo. Já ouvi muito falar de Joel Rufino, realmente um orgulho para o povo brasileiro. Bjs
meu deus, q blog lindo, vou sinalizar no mue:culturanocariri!
parabéns!
Oi,
Vi o seu comentário no meu blog. Estive aqui e achei muito interessante os textos e as imagens. Vamos continuar mantendo contato?!!
Abraço.
Sou leitora de Joel Rufino deste muito tempo. Grande escritor brasileiro.
Linda sua postagem.
Bjs.
Boa Tarde Silvana!
Gostei da sua visita e da sua sinceridade.
Li dois de seus contos e já gostei.
Estarei sempre por aqui.
Xerosss!!!
É facil, basta você ter o endereço da imagem e o endereço do site e colocar na caixinha de "Linke-me" (no meu blog tem), pronto, é so pegar o código.(isso pra fazer banner estatico).
Pra fazer banner animado o procedimento é o mesmo, mas vc tem que ter o "Photofilter" e o "Easy Gif", além do "Picasa"(O picasa fica mais leve se vc, na hora de instalar marcar para nao abrir com o picasa e tambem para capturar somente em "meus documentos" e "desktop".
Parece dificil, mas depois fica divertido, isso é só o básico.
Ótima sexta, fica com Deus.
Nossa, Silvana! Adorei este texto. Não o conhecia.
Beijos!
oi Silvana,
obrigado pela visita q me deu a oportunidade de conhecer esse seu canto.
voltarei
bjs
Gostei do seu blog, voltarei sempre para ler devagar as lendas curiosas desse nosso Brasil.
A lenda do Ossanha, conhecia sem os meninos, somente a parte dos orixás.
Obrigada pela visita e volte sempre.
oi silvana, que legal que vc chegou ao meu blog. Eu tb acredito muito na leitura. Normalmente, leio um livro por mes e outras 4 revistas. Não me imagino sem os livros. Não, necessariamente, de algum dos nossos catedraticos. Alias, sou mais fã do conteúdo do que da forma. Até pq, prefiro as coisas simples da vida e qdo me deparo com formas que se valorizam, me perco nos pensamentos. É o meu jeito. Por isso, acredito que a literatura tenha que ser como os esportes, alias o meu blog fala disso, ser aos poucos. As vezes, muitas crianças deixam de gostar de ler, pq O triste fim de Policarpio Quaresma deixou marcas profundos. Bem, eu era assim. Não suportava os livros da escola, o barroco, o não sei o que. Pra que isso? Começar a ler assim, é como começar a correr por uma maratona. Acredito que as coisas tenham que ser aos poucos. Enfim, é o que penso.
Valeu !!!
umpacedemagica.blogspot.com
"vai, vai vai...."
Olá querida
Uma historia linda, amei, pena que não achamos hoje gente assim tão bondosa.
Com muito carinho BJS.
Olá Silvana.
Vim agradecer e retribuir a tua visita.
Adorei as tuas histórias.
Tens um cantinho muito acolhedor.
Desejo um óptimo fim de semana.
Jinhos grandes da tua mais recente seguidora.
Final semi feliz...
Pois faltou para onde foi o "Moleque" (que de moleque não tinha nada)...
Fique com Deus, menina Silvana.
Um abraço.
Como dizia Milton: "...amigo é coisa prá se guardar..."
Linda estória de verdadeira amizade; de generosa amizade!
Oi, amiga Silvana
Quanta sabedoria nessa linda história!
Desprendimento e caráter são as mensagens que podemos assimilar do "moleque".
Deus a abençoe e proteja!
Um abraço e tudo de bom!
Oi Silvana, adorei a visita que você fez ao meu blog http://danirosadavid.blogspot.com e gostei mais ainda do seu blog, quantas informaçoes, cores, fotos, poesia, bem di jeitinho que gosto.
Quando eu tiver um tempinho vou olha-lo com muito carinho.
estou te seguindo tbm.
um super beijo
Muito legal... foi bom ter descoberto esse blog... pra vc ver que na falta do que fazer ótimas coisas podem acontecer... Bom, estou satisfeito, tanto que estou seguindo. É por conta disso que tbm faço uma "intimação" (HAHA) para que tbm siga o meu. hehehe... brincando.. mas seria ótimo...
taí:
www.antonizado.blogspot.com
Foi de arrepiar: maravilhoso conto.
Ola minha amada eu fiz um selo para voce espero que goste
Oi Silvana, adorei este conto!!Conheço o maravilhoso pesquisador Joel Rufino dos Santos, como vc bem disse ele é referência nos estudos sobre africanidades. As histórias dos orixás são sempre mágicas e relacionadas com a natureza, acho que é por isso que o sincretismo das crenças indígenas e africanas foram tão possíveis. Um grande abraço e obrigada por esta linda história! Denise Guerra http://afrocorporeidade.blogspot.com
Eu peguei esse livro na biblioteca comunitária para ler para minha filha e adorei a estória e a simplicidade.
Minha filha gostou muito das ilustrações que retratam muito bem a literatura.
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