quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A TRISTE SINA DO BARBA-RUIVA.


 Num pequeno povoado pertinho da lagoa de Paranaguá, no Piauí, vivia uma senhora com suas três filhas. A mais nova das moças namorava um jovem que lhe prometera casamento, e em que ela depositara toda sua esperança de felicidade.Um dia, a moça sentiu que estava grávida. 
Tudo bem, se não fosse o jovem ter ido trabalhar em outras terras e nunca mais ter voltado.  Talvez tenha morrido, talvez tenha mandado uma carta que nunca chegou, talvez, isto, talvez, aquilo... 
A verdade é que a moça viu que teria o filho sozinha.
    Ela passou a viver muito triste pela ausência de seu amor, e também muito envergonhada. Como havia de enfrentar os vizinhos sendo mãe solteira? Naquele tempo, era um escândalo uma moça ter um filho sem ser casada...
    Depois de muito refletir, decidiu que, assim  que o bebê nascesse, ela o colocaria dentro de uma bacia de cobre e o jogaria nas águas do rio. E foi o que fez logo que o menino nasceu.
    Atenta a tudo que acontece nos seus domínios, a mãe-d’água ficou indignada com a atitude da jovem mãe.  Como podia ela entregar o filho recém-nascido ao reino das águas? Então pegou o menino em seus braços e levou-o com ela.
    Mas estava tão furiosa, que as águas se revoltaram, fizeram ondas enormes e alagaram as margens, engolindo as árvores, e se estenderam tanto pela terra, mas tanto, que o rio transformou-se numa lagoa cristalina com um imenso espelho de 15 quilômetros de largura.
Foi assim que, da ira da mãe- d’água, formou-se a belíssima e vasta Lagoa de Paranaguá.
    Mas a mãe do bebê não podia esquecer seu filhinho. Vivia amargurada com sua atitude. Ah, se pudesse saber onde estava o seu menino, e o que lhe acontecera!... Noite após noite, ela ia até a beira da lagoa e ali ficava de olhar parado sobre as águas, na esperança de que a luz do luar indicasse onde ele estaria. Porém o luar nada lhe dizia, nada lhe mostrava. Contudo, se seus olhos nenhum sinal podiam descobrir, seus ouvidos podiam perceber o som estranho vindo do fundo da lagoa, um choro de criança novinha, parecia um bebê querendo mamar.
    O caso começou a ser falado e comentado; todos queriam ouvir o choro que vinha das águas. Mas, pouco a pouco, as pessoas foram se afastando daquele lugar e ninguém mais quis construir casa perto da lagoa. É que achavam muito triste ouvir, uma noite atrás da outra, o choro de uma criança novinha.
    E assim os dias foram se seguindo às noites, no permanente passar do tempo, até que uma noite o bebê deixou de ser ouvido. Estaria o encanto terminado? Todo mundo começou a se aproximar cada vez mais da lagoa.
    Ora, numa certa manhã, as moças que costumavam vir ali lavar roupa viram surgir das águas a figura de um menino, que sorria para elas um sorriso alegre como só os bebês têm. Tomaram um susto tão  grande , que fugiram largando a roupa lá, e só voltaram à tarde. Aí, no mesmo lugar, a figura surgiu novamente, só que agora era de um moço bonito, de barba ruiva, que correu para abraçá-las. Mais um susto e mais uma corrida  para bem longe dali. Quando caiu à noite,  as moças voltaram para buscar a roupa, certas de que não teriam mais nenhuma visão. Mas... eis que de, novo, no mesmo lugar,  elas vêem aparecer a mesma figura, desta vez com um homem  de barba ruiva.
    Desde esse dia, muitas pessoas já o viram e, curiosamente, ele não quer conversa com os homens, mas quando vê uma moça corre para ela -  não para fazer mal,  somente para abraçá-la e beijá-la.  Como não sabem as suas intenções, as moças têm medo de Barba-Ruiva e não se atrevem a itr lavar roupa sozinhas.
    Pobre Barba-Ruiva! Só está em busca de carinho e de alguém que quebre o seu encanto. Como isso pode acontecer? Bem, é preciso que surja uma mulher  corajosa, que não tenha medo de se aproximar de Barba-Ruiva e jogar água benta sobre sua cabeça. No dia em que isso acontecer, Barba-Ruiva voltará a ser gente,  como deveria ser desde que nasceu.
    Onde estará a mulher, jovem ou não, que seja decidida e corajosa o bastante para desencantá-lo? Pelo visto ainda não nasceu.
    Enquanto isso, o Barba-Ruiva continua seguindo a sua sina pelas águas espelhadas da Lagoa de Paranaguá.

20 comentários:

Anabela disse...

se eu morasse ai perto,seria eu a deitar a agua benta e a abraçar o barba-ruivo,merecia um destino melhor e eu o daria...,quantas crianças nao foram deixadas no rio em tempos?Mas olha que mesmo agora em pleno seculo xx1 ainda á quem o faça,ainda esta semana ca em Portugal alguem deixou um recem nascido numa mata e pegou fogo,um horror,pena nao aparecer esses duendes das lendas e dar uma liçao...,bjs

Daniel Savio disse...

Interessante, mas pensei que era o outro barba ruiva (o que tinha fama de matar as próprias mulheres)...

Fique com Deus, menina Silvana.
Um abraço.

»¤Þ䵣䤫 disse...

Olha eu aqui! Vou passar sempre! Achei linda essa lenda! Tadinho do bebe! Quando tiver meus filhos vou contar todas pra eles! Bjinhos

Victor Gil disse...

Amiga Silvana.
Estou maravilhado com os teus contos e as tuas histórias. São muito importantes as histórias que ouvimos contar aos nosso avós. Com todo o seu misticismo e as suas crenças. Adoro ler os teus temas. estou a aprender muito sobre o brasil profundo.
Beijos amiga
Victor Gil

FERNANDINHA & POEMAS disse...

QUERIDA SILVANA... AMIGA DO CORAÇÃO... MARAVILHOSA LENDA... ADOREI, COMO SEMPRE TUDO O QUE ESCREVES... ESTA ESTÁ SUPER!!!
ABRAÇO-TE COM MUITO CARINHO E AMIZADE,
FERNANDINHA

angela disse...

Linda lenda.
Como a rejeição da mãe cria um homem que precisa ser desencantado. Bonito isso.
beijos

neide disse...

Que lenda incrével! Pena dos dois: Da mãe que não sabia o que fazer e optou pelo erro maior, e do filho que sem culpa nehuma teve essa triste sina... mas se dependesse de mim pra livrá-lo... tadinho, não ia conseguir.

Silvana querida adoro te ler.

Bjsss

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Uma linda história. Certamente há no mundo uma moça destinada a quebrar esse encanto.
Sempre um prazer vir ao seu cantinho, Silvana,
Beijos

FOTOS-SUSY disse...

OLA SILVANA, MAGNIFICA LENDA...GOSTEI MUITO AMIGA!!!
UMA OPTIMA TARDE...
BEIJOS DE AMIZADE,



SUSY

welze disse...

Olá, flor. Essa eu não conhecia. É para se pensar. E o mais trite é que isso não acontece só nas lendas. Enriqueço meu acervo. Saudações frorestais.

Norma Villares disse...

Olá, Silvana, que prazer retornar neste espaço tão rico em natureza. Esse conto eu não conhecia. Lindo! Abraços floridos

Carlos Luz disse...

olá.. teu blog está muito bom... me tornei seguidor também...
abraços

Gislene disse...

OI, SILVANA
QUE BELA HISTÓRIA!
BRINDOU A TODOS NÓS... MESMO SENDO UM POUQUINHO TRISTE, MAS, NÃO DEIXA DE SER BELA... HISTÓRIAS DESSE NOSSO BELO BRASIL...
BEIJOS À VOCÊ PROFESSORA, E PARABÉNS PELO LINDO BLOG.
GISLENE.

Zininha disse...

Ah...deu até vontade de dar um abracinho bem apertado nele!!

Tadinho!!!

Como dizem, quem vê cara não vê coração...


Adorei minha querida!!!

Beijos...

Anônimo disse...

Silvana, obrigada pela visita no blog e pelas palavras. Já estou aqui espiando seu blog e gostando muito. Importantíssimo esse seu trabalho de resgate da cultura popular e, melhor ainda, registrando aqui, para nosso conhecimento e deleite. Curiosa que sou, visitei seu outro blog sobre poesias e curti tanto quanto este. Já os incluí na minha lista de favoritos! Quando der, passe por lá http://leiamaisaqui.blogspot.com/ Bj

Anônimo disse...

Olá Silvana,

Quero agradecer sua visita ao meu blog, e dizer que fiquei muito feliz com as suas palavras.

Também gostei muito do seu blog. São belas imagens da cultura indígena.

Abraços.

Helenice Priedols disse...

Olá, Silvana, vim agradecer a visita e visitar teu espaço. Adoro esses "causos" e lendas que o povo conta. Voltarei mais vezes para ler tantas histórias interessantes que vi por aqui.

Abraço.

PAZ e LUZ

Anônimo disse...

Que história!
bjs.

Alvaro Vianna disse...

Muito terna.

Obrigado, professora.

Anna D'Castro disse...

Oi Silvana!
Adorei percorrer o seu blog e fiquei deveras agradada por esta lenda do Barba Ruiva e juro que irei ler todas as outras lendas e artigos que vc tão bem narra. Já dei uma espiadinha.
Fiquei muito bem impressionada com este seu fantástico blog... pena não o ter conhecido há mais tempo, mas é sempre tempo para conhecermos o que é bom e o que nos transmite mais arte e mais cultura... e por aqui temos a defesa da cultura popular brasileira que é tão rica. Parabéns querida por tantas lições que está enriquecendo os seus leitores. Foi uma honra a sua visita num dos meus cantinhos o RECOLHENDO FARPAS. Obrigada. Se quiser passar e dar uma olhada no FLORES SELVAGENS - teatro e poesia... faça o favor é lá do ladinho. Têm estado um pouquinho abandonados porque há 2 anos que estou sem internet em casa e na Lan House é difícil de vc se concentrar. Mas em breve as coisas se irão compor.
Também li que vc foi aluna dum querido amigo meu que já se foi o Artur da Távora... ele era duma inteligência a toda a prova.
Mais uma vez parabéns por este seu magnífico blog.
Um beijo grande da
Anna D'Castro