É típica nas formações denominadas "veredas", onde acompanha um curso d'água ao longo do sertão. Só sobrevive em locais alagados.
Nascidos da espetacular capacidade de adaptação do caboclo brasileiro à natureza que o circunda, os "Brinquedos de Miriti" são a expressão da sensibilidade e da representação ingênua do universo ribeirinho da região de Abaetetuba, cidade vizinha de Belém, distante hora e meia de carro e balsa, ou duas horas de barco, o transporte mais usado, talvez até pela calma e placidez que a floresta e os igarapés sugerem.
A confecção dos brinquedos começa com a coleta dos talos (braços) da palmeira, no meio do mato, em Sirituba, um logradouro que se atinge de barco.
O miriti escolhido é de preferência jovem. Da planta se colhe apenas os braços, onde estão as folhagens. Com isso, não é uma atividade predatória, e sim sustentável, uma vez que a árvore é mantida viva e crescendo.
Para se obter a matéria prima dos brinquedos os braços do miriti são descascados e se aproveita apenas o miolo. As cascas que são bem flexíveis, depois de secas, transformam-se em cestos, paneiros, varetas de papagaios e pipas. O miolo, trabalhado com facões de mato, é alisado e transportado em feixes para os produtores dos brinquedos.
Os artistas com ferramentas rústicas (normalmente facas e facões) esculpem e montam peças segundo suas referências pessoais. Alguns especializaram-se em barcos, outros em bonecos dançarinos, cobras, jacarés, madeireiros, pássaros, insetos perfeitos, vaquinhas, aviões, rádios de pilha, televisões. A escolha deste ou daquele motivo é parte da crônica individual de cada autor ou família de autores.
Depois de prontas, com as partes coladas e secas, é aplicado o desenho base da pintura final feita por membros das famílias (homens, mulheres e crianças) que repetem em cada peça o padrão estabelecido. Os brinquedos são estocados e, à véspera do Círio de Nazareth, são levados para Belém, onde são expostos nas praças ou comercializados em girândolas.
As girândolas são uma espécie de cruz com vários braços, também feita de miriti, onde são espetadas ponteiras da casca do próprio miriti para amarração de cerca de uma centena de brinquedos.
A venda é feita pelos próprios artistas ou amigos que trabalham neste período. Ao contrário de outras formas de artesanato da região, como as réplicas de cerâmica marajoara ou tapajônica, cujas referências estão em achados arqueológicos expostos no Museu Emílio Goeldi, os "Brinquedos de Miriti" são uma manifestação artística espontânea e reflexo da criatividade dos produtores seja no uso de cores primárias e poucas misturas (azul, vermelho, amarelo, verde, preto), seja na forma utilizada que sempre reflete o universo caboclo, suas influências urbanas e afetivas.
Contudo, há de se ter em mente que o manejo do buriti aconteça de forma sustentável afim de que essas riquezas se renovem sempre, pois uma palmeira fêmea de miriti precisa de, pelo menos, dez palmeiras machos, que não dão frutos, para ser polinizada.
2 comentários:
que espectaculo,nunca ouvi falar nessa arvora,nem tao pouco que se podia fazer brinquedis tao bonitos...,em relaçao ao fruto fiquei curiosa,é bom?como se chama?
como ficam lindos os brinquedos! Adorei esses bonequinhos abraçadinhos! Será que um dia eles chegam à Minas? Aqui em Minas conhecemos a palmeira como Buriti mesmo.
Abraço apertado!
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