Era uma vez um fazendeiro muito, mas muito rico mesmo. Quando resolvia contar dinheiro, as fazendas, o gado, as casas, o ouro e a prata que possuía, ficava todo embaralhado e nunca chegava a um resultado certo. E você sabe no que ele era também muito, mas muito rico mesmo? Em ruindade! Era danado de ruim e tratava todo mundo com o maior desprezo. Por isso, quando precisava de algum serviço, tinha a maior dificuldade para encontrar quem se dispusesse a atendê-lo.
Sua atenção ia toda era para o filho – um boa-vida ruim que nem o pai -, para um cavalo baio que era a sua paixão, e para um escravo ainda garoto e muito bonitinho. Só que no caso deste último, a atenção era para judiar dele o quanto podia. O pequeno escravo não tinha pai, nem mãe, nem um nome decente. Dizia que era afilhado de Nossa Senhora e todos lhe chamavam de Negrinho. Sua função na fazenda era cuidar dos cavalos, e – ai, ai, ai! – se alguma coisa acontecesse a um dos animais, sabia que seria punido sem misericórdia. Mas o Negrinho era muito cuidadoso e o fazendeiro não tinha motivos para castigá-lo. Além disso, aprendera a cavalgar como ninguém em toda imensidão da campina, o que fazia o fazendeiro malvado se sentir orgulhoso perante os demais.
Um dia, o homem ruim conversava com o fazendeiro seu vizinho, um homem de bom coração. Conversa de cá, conversa de lá, o homem ruim elogiava o seu baio, o vizinho elogiava o seu cavalo mouro, que também era sua paixão, e resolveram apostar uma corrida de cavalos.
- O dinheiro da aposta será para os pobres... – disse o vizinho.
- Nada disso! Será para quem ganhar a corrida! – respondeu o homem ruim, convencido de que seu baio sairia vencedor.
E assim ficou o trato. Preparado o cavalo baio e o cavalo mouro, os cavaleiros montaram foi dado o tiro de largada, e – vupt! – o baio saiu disparado na frente.
A vitória estava certa. Porém, quase na linha de chegada, o baio se assustou, empinou o corpo nas patas traseiras, rodou para a esquerda, rodou para a direita e – pum! – caiu o cavalo e o Negrinho junto com ele. Aí, o mouro passou á frente e cruzou a linha de chegada em primeiro lugar.
O homem ruim ficou verde de raiva! Jogou o dinheiro pelos ares para cima do vizinho e voltou para casa, apressado. O Negrinho chorava baixinho:
- Desta vez ele me mata! Oh, minha Nossa Senhora, desta vez ele me mata!.
Não deu outra: o fazendeiro amarrou o moleque no tronco, deu-lhe uma surra e obrigou-o a ficar no pastoreio durante trinta dias, cuidando de trinta cavalos.
O Negrinho ficou. Os dias passavam, os cavalos pastoreavam e nada de anormal acontecia. O Negrinho estava cansado e teve até uma hora que adormeceu.
O filho malvado do fazendeiro foi espiar como andavam as coisas, doido para pegar alguma falha do escravo. Quando viu que ele dormia, fez um barulho que assustou os cavalos e todos se dispersaram pela campina.
O Negrinho acordou com o barulho do tropel e ficou desesperado. Correu, chamou, gritou, mas os cavalos sumiram cada um para um lado. O filho ruim do homem ruim foi correndo contar ao pai que os cavalos não estavam no pastoreio.
O fazendeiro voltou a amarrar o negrinho no tronco e deu-lhe outra surra. Coitadinho, como sofria! Depois mandou que fosse procurar a manada e só voltasse depois que tivesse reunido os trinta cavalos.
Era uma noite escura, sem lua nem estrelas para iluminar os caminhos.O Negrinho foi para junto da imagem de Nossa senhora, pediu ajuda e pegou um toco de vela que ardia aos pés da Virgem, para poder enxergar alguma coisa. À medida que caminhava, a cera da vela pingava no chão e cada pingo se transformava em outra vela acesa. Em breve toda campina estava iluminada e clara como se fosse dia.
Os cavalos começaram a aparecer e, em pouco tempo, a manada estava toda reunida de novo. O Negrinho agradeceu a Nossa Senhora e sentou-se encostado a uma árvore. Estava exausto.Aquilo fora demais. Sem querer adormeceu, e o filho do fazendeiro, que havia seguido o garoto escravo, mal o viu dormindo, disparou um tiro e voltou a dispersar os cavalos. Depois, como era de se esperar, foi correndo contar ao pai que os cavalos continuavam desaparecidos.
Mais uma surra no tronco! O Negrinho tinha as costas em sangue, não agüentava mais. Chorando de desespero e de dor, chamou por sua madrinha, soltou um gemido e morreu...
O homem ruim nem ligou para o corpo do menino. Jogou-o na boca de um formigueiro para que fosse devorado pelas formigas e foi embora assobiando, como se nada tivesse acontecido.
Foi se deitar, mas estava tão curioso para ver como havia ficado o corpo do menino, que não conseguiu dormir. De madrugada, sem que ninguém percebesse, foi até o formigueiro. E o que seus olhos viram? O Negrinho em pé, sorrindo e sacudindo as formigas, e os trinta cavalos, calminhos, ali junto. E bem ao lado do escravo, quem estava? Nossa Senhora!
O fazendeiro ficou sem fala e sem ação. Num instante, percebeu toda sua maldade e sentiu um enorme arrependimento. Ajoelhou-se junto ao escravo e pediu perdão. O Negrinho montou no seu cavalo baio e partiu em tropel com toda a manada, percorrendo o pastoreio.
Ainda hoje, de vez em quando, o Negrinho atravessa as campinas com sua manada, em busca de animais e objetos perdidos.
Os gaúchos que perdem alguma coisa pedem ao Negrinho que ajude a encontrar. E ele acha, mas só entrega se o dono acender uma vela para Nossa Senhora, sua madrinha.
Eu como não sou besta, mantenho a minha vela sempre sempre acesa.
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Essa é uma lenda típica da região sul.
Encontramos algumas variações espalhadas pelo Brasil.
31 comentários:
Hola,
Adoro seu blog,lembra muito a minha infância e os livros da escola.
A literatura brasileira é riquíssima de detalhes,continue assim.
Minha filha caçula sempre lê seus textos.
bjs mil
Indiana
Oi, Silvana.
Viajei no tempo.
Essa estória é triste e comovente.
Lembro que minha mãe contava p/ mim, quando eu era criança.
Muito rico esse blog.
Beijos.
Olá!
Obrigada pela visita e pelo convite!
Adorei as histórias e vou ficar visita habitual!
Bjs
Esta história é muito triste e linda, não é
?
Olá, Silvana
Gostei muito desse seu trabalho.
Uma beleza! Continue e estarei sempre visitando-a.
beijos
Márcia L
OLA SILVANA, BELISSIMO TEXTO...UMA HISTORIA UM POCO TRISTE E COMOVENTE...VOTOS DE UM OPTIMO DIA!!!
BEIJOS DE AMIZADE,
SUSY
Gostei do seu blog... espero que visite a minha página pessoal, uma vez que visitou um blog de futebol onde coloco notícias já existentes na imprensa (www.relvadourada.blogspot.com) e achou ser um bom espaço "de reflexão"... Na verdade, não é suposto ser um espaço de reflexão, antes de consulta de novidades futebolísticas...
Já o meu blog pessoal, esse sim, tenho a leve pretensão a que seja um espaço de reflexão:
www.thisblackheart.blogspot.com
Obrigado.
Ah,
já agora, também sou de formação em Literaturas (Português Francês), pela Universidade de Coimbra. O seu blogue parece-me interessantíssimo e estarei atento... se acaso precisar de alguma colaboração em escrita ou pesquisa disponha...
obrigado e cumpts.
QUerida Silvana.
Foi desse jeito que ouviu dizer, e deixe que lhe diga: Não conheço as histórias do Brasil, os seus mitos e suas lendas, mas que as conta muito bem, não haja dúvida alguma. Esta e todas as que tenho lido, cativam-me. Existe qualquer coisas nelas que me prendem ao papel, neste caso, ao PC.
Embora tenha um prazer especial pela poesia, este é dos melhores espaços que acompanho. Esta é a melhor poesia que leio.
Beijos amiga
Victor Gil
oi Silvana. Já tinha ouvido falar do Negrinho do pastoreio mas realmente não conhecia a estória. Valeu por colaborar com o divulgação dessas lendas tão bonitas que poucos conhecem.
Agradecendo e retribuindo o carinho da visita ... parabéns pelo trabalho ... voltarei sempre ... belo e relvante ...
bjux
;-)
Olá Silvana,
Linda história, embora triste e comovente...Gostei!!!
Beijinhos
Lourenço
Silvana!
Adorei os teus blogs! Não sei qual gostei mais...Adoro livros, histórias bem contadas, sensiblidade...Adorei os sons da floresta também!
Bjos
eu sempre recorro ao Negrinho para me ajudar a achar meus perdidos. E olha que ele ajuda mesmo.
Essa história me tirou o sono varias noites de minha infancia, não me conformava com aquela maldade, como alguem podia fazer aquilo.
Agora lendo( esta tem uma pequena variação da que eu conhecia) me deu muita tristeza, pois a gente sabe o que foi o tempo da escraatura.
beijos querida
Esta historia é comovente,principalmente por saber que em pleno seculo xxI existem muitos "Negrinhos"por aí,nas mãos de canalhas...!
Oi Silvana, Boa noite!
Seu blog é lindo... E essa lenda mto triste!
Mas vim agradecer mesmo, pela visita ao meu Lua Imaginada. Eu tenho mais 4 blogs e se vc gostar de futebol tb tem... Mas sou Flamenguista e o blog foi criado em homenagem a ele!
Se vc quiser dá uma passada neles, vou lançar brincadeira nova no Vidas Linha dias 22 e 23 de outubro, dá uma olhada nele para saber como participar:
http://vidaslinha.blogspot.com
bjão
Essa história é linda e muito triste, mas gente ruim é o que mais há.
Sua ideia de contar estas histórias é muito boa, resgata uma cultura que vai se perdendo.
Agradeço sua visita e comentário no meu blog.
Olá silvana!
que delícia receber sua visita lá em casa. Volte mesmo, minha casa estará sempre com as portas abertas para ti.
Quando meu filhos eram pequeninos sempre contava essas histórias do nosso folclore. eu pessoalmente sou apaixonada por tudo o que se refere ao nosso Brasil.
Parabéns pelos Blogs estarei sempre por aqui também!
Beijus!
Silvana.
esta lenda da minha terra é mesmo linda e esta versão eu não con hecia, e adorei....
é uma lição de vida para qualquer um memos bom que tem por,aí.
beijo
Maravilha seu blog.
Acredito ser importante esse resgate de coisas que poucos conhecem, ou nem sempre tiveram oportunidade de conhecer. Nosso país é rico em sua cultura e é preciso que se divulgue. Parabéns. Voltarei sempre.
Abraços
Obrigada, retribuindo a visita, estarei sempre por aqui, muitoooo lindo seu trabalho e desde já muitaa sorte e sucesso!!!bjosssss e como sou do sul conheco a historia...e amei!parabens!!!
Vc já viu está lenda em um filme com o Grande Otelo?
Muito bom!
Bjs.
Logo que vi seu comentário,vim te visitar e logo propor uma parceria com troca de links.Acho que estamos no caminho certo por um mundo melhor,só falta mais pessoas iguais a nós se interessarem por isso também!!!
Estou meio ausente do blog,por motivo de muito trabalho,mas se desejar parceria é só comentar lá http://escuteseusolhos.blogspot.com
Quando o fizer,farei também e lhe responderei!
Obrigado por me visitar e um até logo,pois espero que volte logo!!
Ótimo relembrar essas lendas . Gostei muito das suas pesquisas.
Obrigada pela passagem pelo meu blog, transcrevo poemas , mas esse é um blog que adoraria fazer também porque gosto muito de contos.
Abraços
Olá Silvana,
Seu feedback foi de grande importância para mim. Sinto-me lisongeado por você acompanhar meu blog.
Quanto ao seu, eu poderia dizer que era o conteúdo que me estava faltando. Gostei muito e vou recomendar em meu blog.
Um forte abraço!
Tem coisa mais linda que estas histórias de nosso folclore???
Lembra com saudades o tempo de escola...
Adoei amiga...Um feliz e lindo fim de semana...
beijos...
ahhhhhhhh, essa historia do negrinho tem uma conotação dif, fiz estagio numa 4 serie e a prof deu a estoria inumeras vezes...vai ficar para tempos futuros, qdo "eu" estiver na sala de aula e lembrar que ela marcou a vida das cçs....que nem tao cçs sao mais!!!
bjks
Silvana,
Vim agradecer a sua visita no meu bog e visitá-la.
Adoro a história do "Negrinho do Pastoreio", ela é muito popular no Rio Grande do Sul, quer dizer é uma lenda.
Lembra da minha infância.
Voltarei para ler mais.
Parabéns pelo seu blog, histórias, contos e lendas nos fazem pensar e crescer.
Abraços,
Marise.
Eu conhecia a lenda, mas não totalmente...
Fique com Deus, menina Silvana.
Um abraço.
Olá, bom dia !
Confesso que já havia lido a história , mas há tanto tempo !!!
Hoje reli e revivi minha infancia de colégio.
Uma história triste, mas com um final feliz.
Bjs
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