Tudo começou com o escritor português de nome Gonçalo Fernandes Trancoso
após publicar o livro "Contos e Histórias de Exemplo", em Portugal no
éculo XVI.Este livro foi editado pela primeira vez no ano de 1575, passou a ser uma
referência nos contos populares.
A expressão "histórias de Trancoso" é muito comum em Portugal e no Brasil,
passando a denominar todo conjunto de histórias populares transmitidas pela
tradição oral.
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QUEM TE MATOU ?
Um homem, certo dia, saiu da cidade andando a pé, e junto a uma porteira, longe de habitações, deu com uma caveira feia como só podem ser a morte e o pecado.
Levianamente, deu-lhe um pontapé e caçoou:
- Quem te matou, caveira?
Mas qual não foi o seu espanto, quando, com um estalar dos ossos muito brancos, lavados de chuva e estorricados ao sol, a caveira respondeu:
- Foi a língua.
O pavor o sacudiu com ímpeto. Saiu por ali afora numa doida carreira, e dentro de pouco tempo estava novamente na cidade. Na sua excitação, contou a toda gente o que lhe acontecera.
- Não pode ser - diziam.
- Foi. Juro. Eu vi. Eu ouvi. Junto a uma porteira.
- Uma caveira falando? Alucinação, meu amigo.
- Verdade.
Alguns acreditavam, outros não. A maioria, não. Mas a notícia correu a cidade, cercou-a, voou até o palácio do rei.
O rei mandou chamar o moço.
- Que história é essa?
O moço contou tudo, ainda se arrepiando de se lembrar do susto.
- Ela respondeu, juro, majestade.
O rei se desencostou do trono e, com um dedo em riste, sacudindo-o diante do nariz do moço, falou:
- Vou lá ver isso. Sou curioso. Mas veja lá, se for mentira sua, e você me fizer bancar o bobo, eu te mando pendurar na primeira árvore que encontrarmos.
- Foi verdade, majestade - murmurou o moço.
Aprestara, então, um grande cortejo. Ia adiante o rei no seu cavalo branco, ricamente ajaezado, com aperos de ouro e prata. E depois, os nobres, suntuosamente vestidos. E os soldados. Tudo aquilo fulgia ao sol. Bem adiante, caminhava o moço a pé, com as mãos amarradas. Tudo estacou junto à porteira. Parecia uma festa. Os que riam e caçoavam calaram-se ao ver a caveira, tão maligna parecia. Trêmulo, o moço perguntou:
- Quem te matou, caveira?
A caveira quieta estava e quieta ficou.
O moço pensou que talvez tivesse falado muito baixo. Em voz mais alta, mas insegura, interpelou novamente:
- Quem te matou, caveira?
E a caveira, quieta.
- Quem te matou, caveira? - gritava agora, com os olhos esbugalhados, saltadas as veias do pescoço, e um pavor infinito apertando-lhe o coração.
- Quem te matou, caveira? Quem te matou, caveira?
E a caveira muito branca, luzindo ao sol, em silêncio. O moço perdeu a cabeça, começou a dar-lhe pontapés, o golpe soava cavo, e ele ia atrás dela novamente, de um para outro lado, suando, rugindo.
- Quem te matou, caveira?
Apanharam-no, veio o carrasco no seu camisolão vermelho, fez o nó corrediço com dedos ágeis, e o moço ficou enforcado numa árvore à beira do caminho, enquanto a comitiva voltava, aparatosa mas sem animação, para a cidade.
Ficou tudo em silêncio, no campo. Não passava viva alma. Decorreram as horas quentes do dia, anoiteceu. Quando se adensaram as primeiras sombras, aconteceu uma coisa extraordinária. A caveira, que não parecia dotada de movimento, rolou um pouco sobre si mesma e veio, aos pulos. Pulou até chegar sob a árvore onde estava o enforcado. E ali, com o feio buraco das órbitas vazias virado para cima, perguntou:
- Eu não te falei que quem te matou foi a língua?
(In ROMERO, Sílvio. Folclore brasileiro; contos populares do Brasil)
23 comentários:
ahahahaahahaah!O maximo,é bem verdade que tal como dizemos por ca,"pela boca morra o peixe..."
Minha mãe sempre me conta essa história. Até hoje.
Ai, ai, ai!
Bjs.
to viciada no teu blog, sempre tenho que vir aqui absorver conhecimento. Bjos no coração!
E no final das contas, foi mais um perdido pela lingua...
Fique com Deus, menina Silvana.
Um abraço.
fantástico post!
Cara Silvana, boa tarde!
Estou aqui para agradecer a sua visita e também o seu carinhoso comentário.
Um grande abraço.
PS. Estou indicando seu Blog para meus alunos e já imaginado uma atividade com as suas pesquisas.
Olá!!!
Visitando blogs cheguei até aqui e me encantei.
Parabéns pelo bom gosto som visual confortável muita leitura útil e gostoso de visitar.
Já estou te seguindo.
Se possível faça nos uma visitinha e deixe sua marquinha no blog da Bellinha .Será uma honra te receber.
www.talkisabella.blogspot.com
Um abraço.
Olá querida
Sempre a lingua nos trai, por isso devemos pensar bem antes de abrir a boca rsrsrsrs...
Lindo texto.
Com muito carinho BJS.
Devemos por vezes frear a língua.
Gosto baste de a ler.
Obrigada
Luisa
Silvana
Com chegou ao meu blog?
abraço
Silvana,
Gostei muito. E o "fundo florestal" está muito bom. Parece que a gente está no campo, mesmo.
Obrigada por sua visita ao meu blog.
Olá Silvana, boa noite!
Descobri o seu blog e gostei...
Gostei muito desta história... é verdade que temos de ter cuidado com a língua.
Devemos ser "...prontos para ouvir e tardios para falar", como diz a Biblia na carta de S. Tiago 1: 19
Se assim fizéssemos sempre, evitaríamos algumas situações desagradáveis. Mas... somos humanos, falíveis!...
Obrigada pela partilha.
Beijinho e bom fim de semana
Olá, Silvana, fantásticas as histórias; belo trabalho de pesquisa. Grande abraço; voltarei sempre. Grata por sua visita ao meu blogg "Reminiscências" -Marilena Soneghet
Então Silvana, ela avisou e ele não escutou....
Bjs
Linda noite
Gostei muito dos textos escolhidos bem como das poesias para crianças. Agradeço sua visita ao meu blog e espero contar com mais delas. O meu trabalho é de encontrar histórias que tragam revelações da alma e das relações humanas; o que a humanidade produziu que sirva de conhecimento universal. Minhas atualizações são semanais, mas pretendo aumentar esta frequência até janeiro.
Abraços,
Paulo Ferrari
Essa é boa!!! bjus e bom feriado.
Oi, Silvana parabéns pelas postagens. Eu me senti em um tour na Floresta e mesnsagens.É sempre bom ter contato com a natureza!Agradeço sua visita no meu blog. Beijos, tenha um feriado maravilhoso.
Abraço expresso.
Minha querida Silvana que maravilha! Fique radiante em ler as suas páginas. Obrigada por visitar o meu, o qual em relação ao seu está tentando engatinhar. Queria colocar uma mensasagem, um selinho, mas ainda não sei. Passei o tempo todo em uma bela "floresta." Parabéns!
Por engano coloquei o comentário como anônimo. Desculpe.
ººº
Gostei do cantinho...
Voltarei ....
Muito boa essa.
É para não esquecermos de que temos dois ouvidos e uma boca !
Abraço
Olá!
Vim agradecer por acompanhar o Blog'Arte, e conhecer seu blog! Adorei a proposta!!! Adoro contos, fábulas, histórias!!! Seu blog é rico em um tesouro imaterial fantástico!!! Parabéns!!!
Beijins!
Essa história, vem sendo contada por muitas gerações. Mas precisei passar por aqui para saber mais detalhes.
Beijos
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